" Dourdil é um nome com a linearidade de um desenho. Não de um desenho directo a um fim, mas quebrado e às vezes mesmo enredado no percurso, como este que ele um dia me deu e tenho agora aqui diante de mim. Encontrávamos-nos com frequência quando eu ia à cantina para almoçar e ele vinha do atelier para almoçar. E tínhamos palavras breves nesse encontro breve. Assim calhou uma vez dizer-lhe, um pouco ao acaso,que o desenho lhe fundamentalizava a pintura , não a cor:
Você é da linhagem de Florença não de Veneza.
Ele fitou-me com o seu olhar directo e imóvel, à procura, na pergunta que havia em mim, de uma resposta que houvesse nele.
Talvez!
Mas é possível que tudo se reduzisse à dificuldade de encontrar aí o que fosse plausível, o que também respondesse ao que na sua pintura era a sua cor grave sólida de peso e estável. E è esse modo estável, diria talvez mesmo discreto da sua cor toldada de uma noite oblíqua e longínqua, que me faz agora emergir a sua obra para a memória nublada e um pouco já distante, que ela me ficou".
Vergílio Ferreira In Jl,13 mar.1990
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