segunda-feira, 24 de abril de 2017

"Recordando Nicolas de Stael" de Luis Dourdil


"Uma tela não está pintada por estar toda "tintada", está, sim, quando, compositivamente, as formas nela definidas pela cor pelo desenho se harmonizam entre si e exprimem o que o pintor nos quis comunicar".
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Luís Dourdil




"Recordando Nicolas de Stael" Óleo s/tela de Luís Dourdil
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Pintura a óleo de Luís Dourdil - "Bairro da Lata"
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"Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos.
Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir."

José Saramago
Cadernos de Lanzarote 1994




sexta-feira, 21 de abril de 2017

Pintura a óleo  de Luís Dourdil
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" A sua obra enche-se  progressivamente de silêncios falantes, há nela uma sufocação magoada, a memória das dilacerações, a paisagem privada de som físico e suspensa de uma espécie de tragédia sem nome.
Estilhaçadas, as formas vivem trajectórias incumpridas ,
desfazem-se e refazem-se em câmara lenta, como num filme irreal e, no entanto, comovente de humanidade."
 Rocha de Sousa in DOURDIL Col/Artes e Artistas Imprensa Nacional Casa da Moeda


Pintura a óleo (pormenor) Ano 1963 de Luís Dourdil
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"De vez em quando a eternidade sai do teu interior e a contingência substitui-a com o seu pânico. 
São os amigos e conhecidos que vão desaparecendo e deixam um vazio irrespirável.
Não é a sua 'falta' que falta, é o desmentido de que tu não morres."
Vergílio Ferreira






Pintura  (pormenor)  "Fase do Metro" de Luís Dourdil

A projecção dos vultos, a luz o movimento/velocidade através dos vidros da janela.. deu origem a uma "fase" que muito inspirou o pintor.




A identidade de um estilo Luis Dourdil

 (...) Recordar, revisitar, repetir de todos os modos, qualquer forma de aceder ao pintor Luís Dourdil, é favorecer a manutenção da memória e da sua identidade plástica; é promover a continuação de estudos e as mais variadas fruições; é trazer para os grandes públicos e disponibilizar um dos artistas do século XX com obra de relevo; é sobretudo combater a finitude da condição humana, contrapondo pertinente a intemporalidade das suas composições plásticas.
E se essa intemporalidade pode de facto contrariar o esquecimento e o ostracismo, que muitas vezes apanha tão desprevenida, quanto indefesa, a obra criada, será pois na ritualização temporal que podemos contrariar esta e outras circunstâncias, num círculo contínuo de construção e reconstrução da identidade da arte e do património e do seu garante memória.
E, se admitirmos que o fundamento do tempo é essa memória, parece pois ser possível considerar que a exaltámos, cumprindo com a homenagem justa e a divulgação substantiva.

Maria Teresa Bispo 
Licenciada em História pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Mestre em Arte, Património e Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa;


 Pintura de Luis Dourdil colecção particular   © All rights reserved

" Luis Dourdil - A identidade de um estilo"

Óleo de Luis Dourdil colecção particular
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Ode à Paz


Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza, 
Pelas aves que voam no olhar de uma criança, 
Pela limpeza do vento, pelos atos de pureza, 
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança, 
Pela branda melodia do rumor dos regatos, 

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia, 
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos, 
Pela exatidão das rosas, pela Sabedoria, 
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes, 
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos, 
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes, 
Pelos aromas maduros de suaves outonos, 
Pela futura manhã dos grandes transparentes, 
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra, 
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas 
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra, 
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna, 
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz. 
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira, 
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz, 
Abre as portas da História, 
deixa passar a Vida! 


Natália Correia, 
in "Inéditos (1985/1990)"

domingo, 9 de abril de 2017

AS RELAÇÕES DO NEO-REALISMO COM AS ARTES VISUAIS






Lançamento da revista Nova Síntese nº 10
http://www.belasartes.ulisboa.pt/lancamento-da-revista-nova-sintese aqui; http://www.belasartes.ulisboa.pt/lancamento-da-revista-nova-sintese/

No dia 17 de Fevereiro de 2017 a apresentação da revista "Nova Sintese nº 10 realizou-se no Auditório Lagoa Henriques pelas 18h .Foi apresentada pela Professora Cristina Azevedo Tavares na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.



Da representação social em arte ao empenhamento político-artístico: Imagens d’ O Diabo - Luísa Duarte Santos 
Lançamento da revista Nova Síntese nº 10


08 de Abril de 2017
A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira/Museu do Neo-Realismo e a Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo apresentaram no  dia 8 de abril, pelas 15h00, no Auditório do Museu do Neo-Realismo, o nº10 da Revista Nova Síntese, dedicado às relações do Neo-Realismo com as Artes Visuais.

A sessão contou com as presenças de Vítor Viçoso, Director da Revista e António Pedro Pita, Director Científico do Museu do Neo-Realismo, e teve a apresentação de David Santos, coordenador da parte 1 deste número







 O pintor Luís Dourdil é por nós interpretado à luz de uma aproximação ao neorrealismo, a partir de uma obra de excepção: “Homens do Fogo”.
Luísa Duarte Santos desenvolve uma nova leitura sobre as relações entre a “representação social em arte” e o “empenhamento político-artístico”, a partir das “imagens” publicadas no influente “O Diabo”.





O presente número da revista Nova Síntese é dedicado às relações do neorrealismo com as artes visuais. O tema impõe-se, desde logo, pela natureza específica de uma ligação profícua e complexa (contrariando assim algumas ideias comuns que proliferam ainda na história da arte do nosso país) e que motivou o empenho de muitos dos melhores artistas da terceira geração modernista portuguesa, com expressão desde meados dos anos 40 até ao final da década seguinte. Apesar de a produção de obras de arte inspiradas por alguns princípios estéticos e éticos identificados com o movimento neorrealista ter dominado sobretudo a arte moderna portuguesa no período do imediato pós-guerra, uma poética sensível aos temas sociais, com sentido mais ou menos crítico e reivindicativo, fez o seu caminho ao longo dos anos 50 até se associar, lentamente, a uma opção mais individual de observação e prática em torno de uma nova figuração inspirada já por outras coordenadas, como podemos ler na interpretação proposta por Fernando Rosa Dias, no primeiro e mais extenso ensaio desta edição. Diríamos que, durante pouco mais de quinze anos, o neorrealismo esteve presente no percurso, no imaginário e nos desenvolvimentos da arte portuguesa de um modo que merece não apenas ser reconhecido como reinterpretado, sob a óptica de novas linhas de investigação que contribuam finalmente para desfazer mitos e ideias pouco produtivas sobre a sua importância no panorama artístico do século XX português.(...)
David Santos

quinta-feira, 6 de abril de 2017

1º- Prémio Luis Dourdil Ano 1984 -1985 -Homenagem Dos Artistas Portugueses A Almada Negreiros

Homenagem Dos Artistas Portugueses A Almada Negreiros
Ministério Da Cultura


1º- Prémio Luis Dourdil Ano 1984 -1985 

2º - Armanda Passos 
3º- Justino Alves 
entre 71 obras de grandes e vários artistas portugueses. 

1984 -1985 Tribute Portuguese artists Almada Negreiros 
by the Ministry of Culture 

1st Prize -  Luis Dourdil

2nd Armanda Passos 
3rd Justino Alves 
between 71 works great and various Portuguese artists.
Colecção particular.
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"Olhar e ver. Subjectividade e objectividade, uma dialéctica no processo criativo."


Dourdil atende à realidade social, transfigurando-a expressivamente, sobretudo quanto às funções sociais dos homens, nomeadamente a do trabalho – ele próprio um ‘operário’ da arte –, reflectida também na longa ‘série’ das Varinas, ou mesmo nos murais que concebe para o Laboratório Sanitas, numa constante que percorre grande parte da primeira fase da sua Obra.

Luísa Duarte Santos
(IHA-FCSH/UNL) 







Pintor interessantíssimo, desfez em meia-dúzia de penadas/pinceladas, como talvez mais ninguém português, a falaciosa dicotomia daquilo a que se convencionou chamar figuração e abstracção, com uma delicadeza tal e uma sensibilidade tão hábil no tratamento da cor cujo efeito conjunto não reflecte, como alguém disse, uma tensão permanente entre esses dois (falsos) pólos e antes um estado superior, aqui mais trabalhado do que intuído, onde eles nem sequer existem. Arte maior, em suma.

LER AQUI:

Dourdil ocupou cargos directivos na Sociedade Nacional de Belas Artes 1957-1963.


Luis Dourdill ano de 1974 colecção particular 
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Carvão s/papel -1980  
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domingo, 2 de abril de 2017

A pintura é a forma de arte mais explicita dos sentimentos e do pulsar de uma cidade, de um povo e de uma época.




"Varinas"-Colecção Particular
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c.1955-56


De mão na anca,

descompõem à freguesa.
Atrás da banca,
chamam-lhe cosma(?) e burguesa.

Mas nessa voz,
como insulto à portuguesa,
há o sal de todos nós,
há ternura e há beleza.

Do alto mar
chega o pregão que se alastra:
têm ondas no andar
quando embalam a canastra.

Minha varina,
chinelas por Lisboa.
Em cada esquina
é o mar que se apregoa.

Nas escadinhas
dás mais cor aos azulejos
quando apregoas sardinhas
que me sabem como beijos.

Os teus pregões
são iguais à claridade:
caldeirada de canções
que se entorna na cidade.

Cordões ao peito,
numa luta que é honrada.
A sogra a jeito
na cabeça levantada.

De perna nua,
com provocante altivez,
descobrindo o mar da rua
que esse, sim, é português.

São as varinas
dos poemas do Cesário
a vender a ferramenta
de que o mar é o operário.

Minha varina,
chinelas por Lisboa.
Em cada esquina
é o mar que se apregoa.

Nas escadinhas
dás mais cor aos azulejos
quando apregoas sardinhas
que me sabem como beijos.

Os teus pregões
nunca mais ganham idade:
versos frescos de Camões
com salada de saudade.




Ary dos Santos





" Nu artístico na obra de Luís Dourdil"



"Na penumbra dos ombros é que tudo começa
quando subitamente só a noite nos vê
E nos abre uma porta nos aponta uma seta

para sermos de novo quem deixámos de ser."

David Mourão- Ferreira, Obra Poética





Carvão s/ papel - Colecção particular.
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PINTURA PORTUGUESA SEC. XX


(...) O teorema da pintura de Dourdil, não se resolve sem os recursos aos fragmentos do visível, ao paradoxo da festa, ou da tragédia, jogando também com o pensamento de Braque quando ele dizia que, em arte,o que não se explica é o que verdadeiramente conta
Não andaria o pintor,mesmo sem o saber, longe dos poetas do absurdo,roçando semelhanças inquietantes com a literatura de 
Kafka e de Beckett...
Estas aproximações não são aleatórias,procuram antes levantar o véu de encanto que Dourdil colocava nos seus personagens(...)
Prof. Rocha de Sousa in Pintura Portuguesa Sec.XX.

Pintura a óleo Luís Dourdil

© All rights reserved - Colecção particular

"A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz."
José Saramago