segunda-feira, 25 de junho de 2012

LUIS DOURDIL - PINTORES PORTUGUESES SEC.XX - Década de 40


Amália Rodrigues - Lisboa Antiga


Lisboa, velha cidade,
Cheia de encanto e beleza!
Sempre a sorrir tão formosa,
E no vestir sempre airosa.
O branco véu da saudade
Cobre o teu rosto linda princesa!

Olhai, senhores, esta Lisboa d'outras eras,
Dos cinco réis, das esperas e das toiradas reais!
Das festas, das seculares procissões,
Dos populares pregões matinais que já não voltam mais!

Lisboa, velha cidade,
Cheia de encanto e beleza!
Sempre a sorrir tão formosa,
E no vestir sempre airosa.
O branco véu da saudade
Cobre o teu rosto linda princesa!

Olhai, senhores, esta Lisboa d'outras eras,
Dos cinco réis, das esperas e das toiradas reais!
Das festas, das seculares procissões,
Dos populares pregões matinais que já não voltam mais!

LUIS DOURDIL PINTORES PORTUGUESES SEC. XX


Rua do Crucifixo - LISBOA



ESTUDOS PARA A EXECUÇÃO DA OBRA HOMENS DO FOGO ÓLEO S/TELA 114X153

"(...) O SEU DESENHO É DE BELA EXPRESSÃO PLÁSTICA,DE CUNHO MODERNO E COM MUSICAL SENTIDO DA FORMA.
E É A EXPRESSÃO DE NATUREZA SINTÉTICA DA SUA ARTE QUE LHE INDICA O CAMINHO DA GRANDE COMPOSIÇÃO MURAL - NOBRE ASPIRAÇÃO DA ARTE MODERNA(...)"

ADRIANO GUSMÃO



domingo, 24 de junho de 2012

HOMENS DO FOGO - LUIS DOURDIL PINTORES PORTUGUESES SEC.XX

HOMENS DO FOGO - MUSEU DA ELECTRICIDADE
(...)" Tivemos,há poucos dias ocasião de apreciar o trabalho de um moço artista,trata-se de LUIS DOURDIL,que num golpe de asa conquistou já um relevante lugar como artista.È um artista nato que por isso mesmo,cria arte numa linguagem fluente e fresca,como de quem obedece sem hesitações ao génio.
O seu ultimo trabalho é uma ampla e original tela,vinte metros,para a decoração da entrada dos escritórios da Companhia do Gás,na rua do Crucifixo.
DOURDIL que é dotado de uma imaginação criadora - essa invulgar preciosa e profunda chama! - soube construir,quási intuitivamente uma larga e harmoniosa composição,com motivos arquitecturais, figurando certas operações,como o trabalho dos fogueiros,o desenrolamento das bobinas de cabos eléctricos,que embelezam,com a respectiva representação humana.
A figura humana foi tratada por DOURDIL com másculo poder plástico: os seus operários são construídos num traço de vigorosa síntese, sobriamente manchada a cor,guardando largos espaços luminosos.
O realismo dos seus trabalhadores lembra por vezes o de Meunier ou de Millet, realismo heróico.
O seu desenho é de uma excepcional qualidade tendo em conta as proporções do trabalho....
07-04-1943 IN Diário Popular                            ADRIANO DE GUSMÃO

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Do livro- Resposta a Matilde- de Fernando Namora "DOIS OVOS AO FIM DA TARDE" conto verídico sobre Luis Dourdil


PINTURA MURAL/DECORAÇÃO DO CAFÉ IMPÉRIO EM LISBOA EM 1955
TÊMPERA A GEMA DE OVO


"DOIS OVOS AO FIM DA TARDE"
 CONTADO POR FERNANDO NAMORA  RELATA"A AVENTURA DOS 2 OVOS AO FIM DA TARDE" QUE DOURDIL COMPRAVA DIARIAMENTE PARA A EXECUÇÃO DO A FRESCO.

Quando o homem saiu de casa,pensou apenas em que lhe saberia bem ir a pé até ao fundo da Alameda.Não eram muitas as vezes em que podia voltar as costas ao autocarro e dar-se a esse apetecido exercício.Sem o aguilhão do relógio.Sem moer-se com atrasos.Tinha um emprego que o enjaulava das tantas da manhã (que cedo acordavam as manhãs!) às tantas da tarde (que ronceiras eram as tardes!),com as nádegas pregadas a um banco alto, o cavalete na frente,a mão contrafeita.a sujar papéis de olhos fechados, a cidade espalmada nos vidros da janela como um rosto triste (mas a tristura era dele,que a via tão perto e tão distante), e quando, enfim, se abriam as portas da prisão pouco mais tempo lhe restava do que,num rufo,tomava a bica no café mais próximo.Depois vinha o jornal lido no autocarro,o jantar e o serão que não chegava a nada para o muito que lhe daria gosto fazer.A mulher nem se atrevia a propor um passeio.Sabia respeitar aquela necessidade de iludir o sonho e tricotava enquanto ele,numa nuvem de cigarros,refundia, noite após noite,o que começara na véspera. Havia os domingos, é certo,mas os domingos eram a ressaca da semana:a indolência merecida ou desenganada,o pequeno almoço na cama,a música do rádio,a matinée no cinema do bairro e,sobretudo,o fastio das ruas em que a vida se adiava.A verdade é que,quando chegava o Verão,sentia as juntas perras,a moleza pegada ao corpo e,debalde,fugia ao langoroso convite dos cadeirões das esplanadas.Valia-lhe ser um peso pluma.Mas agora que,por um acaso da sorte e valendo-se de um duvidoso atestado de doença,interronpera o emprego para aceitar aquele trabalho,não desperdiçaria o ensejo de um pouco de marcha diária,já que da sua casa à Alameda nem dois quilómetros distavam.Marchar, numa rotina de sedentarismo (tanto os da alma como os dos músculos) também sabia a libertação.O homem, pois,saiu de casa a foi ao atravessar a rua que se lembrou dos ovos.Sem os ovos, nada feito. Estudara as coisas com rigurosa minúcia.Desavesado a certos lugares,e como nunca acompanhara a mulher nas compras,voltou atráz e gritou para cima, pelos roufenhos do intercumunicador:
- Maria,onde poderei encontrar ovos?
A mulher,com risos na voz,elucidou-o:
-Fica-te em caminho.Na Charcutaria"Pôr do Sol".
A Charcutaria "Pôr do SOL".Essa, conhecia ele.Ali a dois passos.Tomava lá café,nada mau,e só um herege podia ficar indiferente à exuberância da apetitosa montra,desde chourições aos papos de anjo de Amarante.Ovos,numa luxaria daquelas?A ideia intimidava-o.Entrou, porém armando-se com o alibi de precisar de cigarros,para o caso de se sentir em apuros.Viu-se,por momentos, aturdido com o labirinto de escaparates,mas logo um senhor mavioso,que o observara de longe,destes para quem"o cliente tem sempre razão",veio desembaraça-lo de hesitações.
-Tem a bondade.Vossa Excelência que deseja?
Adiou a resposta com um distraido ou ainda perturbado:
-Boa tarde.
-Boa tarde a Vossa Excelência. Deseja então...
-Ovos.
-Concerteza.Tem por onde escolher.
-Queria dos melhores.
O logista, que parecia passado a ferro de cima a baixo,assentiu numa reverência e,guiando o cliente até uma pilha de tabuleiros,apontou com a mão esmerada:
-Aqui os tem Vosssa Excelência.
O homem pegou num,dos ovos,rodou-o vagarosamente entre os dedos, avaliou-lhe o peso e, quando ia a apreciá-lo contra a luz,o logista interrompeu-o,já numa ênfase um tudo- nada agastada:
-São de primeira qualidade.Com carimbo.Vêm directamente de Albarraque,do produtor.Ovos saloios-e diluiu o olhar impaciente pelo que se passava em redor.
O pormenor do carimbo é que pareceu impressionar o cliente.Pois, lá estava o carimbo.Para quem não estivesse afeito aos códigos de mercancia,poderia parecer outra coisa,mas eram mesmo letras,números-um carimbo.Ficava a saber que por aí,se conheciam os ovos de confiança.
-Bem,já vejo que são bons.E suponho que frescos.
-Sem dúvida.
O logista aguardou uma ordem,ou seja.que o freguês mandasse embalar a quantidade desejada,e,de raspão,atentou em que ele nada trazia consigo,nem um saquinho disfarçado,que servisse para transportar os ovos.Mais que ia dizer-lhe para mandar a encomenda a casa.
-Quantas dúzias?
-Quero dois.
-Disse duas?
-Dois.Dois ovos.
-Vossa Excelência manda.
A imperturbabilidade do logista era um modelo de controle profissional das emoções.De calo no ofício.E também de natural fidalguia,perfeitamente compatível com uma actividade que alguns tinham por servil.Um senhor,enfim.Chamou a empregada para embrulhar os dois ovos e agradeceu como se tivesse tratado de uma compra choruda.
O homem esteve a trabalhar toda a tarde...
No dia seguinte, a cena da compra simplificou-se.
O senhor de falas corteses vio-o do balcão,antecipou-se a um marçano,talvez para que não houvesse perda de tempo e inquiriu:
-Hoje,Vossa Excelência deseja...
-Os ovos.Dois.Com carimbo.
Enquanto os escolhia no tabuleiro,o logista repetiu:
-Dois.Com carimbo.Ei-los.Mais nada?
-Mais nada.
O outro franziu a testa ainda lisa.Só a testa.Mas, ao convidar o freguês a acompanhá-lo na cariciosa mirada pelos artigos expostos,via-se que lhe era dificil aceitar o vexame de uma compra que não justificava que alguem pusesse os pés na mais ordinária das lojas.
-Temos um esplêndido queijo de Azeitão.Talvez Vossa Excelência...Mas se prefere da Serra...
_Não quero queijo.
-Ou fiambre.Não encontra que se compare.
-Apenas os ovos.
-Vossa Excelência manda.
À despedida,foi com um tempero de discreta ironia que o senhor afável perguntou;
-Vossa Excelência ficou satisfeito com os ovos de ontem?
-Eram perfeitos.
-Ainda bem.Nunca tivémos uma reclamação.
E o mesmo diálogo com a ocasional variante de meias palavras de embuçada intenção,nos dias que se seguiram.Mas,à quarta vez,depois de o logista o seduzir em vão,com atuns,salpicões,alheiras de Mirandela,intrigado com a história dos ovos... bastar-se com os ovos em três jantares sucessivos?(e o almoço,com mil diabos?) e nem ao menos se consolar com um naco de presunto ou uma talhada de queijo!...Por isso, o estranho cliente era uma carga de ossos.
-Boa tarde.
-Boas tardes a Vossa Excelência.
-Dois ovos como os de ontem.
-Ou como os de anteontem...
Sorriam ambos.A revalar para uma intimidade constrangida.
E estavam naquilo.à mesma hora.E,por ser à mesma hora,o logista já o esperava à porta.
Os dois ovinhos do costume,não é verdade?
-Dois.
-A que horas fecha a charcutaria?
-Às dez, caro senhor.
-Então passarei a vir a roda das nove.
O logista passou a mão branda pelos cabelos grissalhos,que a brilhantina escurecia e domesticava.Encorajava-se a um reparo.
Vossa Excelência desculpará a inpertinência:mas porque não leva de cada vez uma duzia de ovos,uma duzia ou outra quantidade qualquer,evitando o incómodo de...
-Prefiro assim.
Vossa Excelência manda.
Os gestos do logista,porém,a custo dissimulavam o nervosismo,para não dizer a irritação.Aguardava o cliente à hora prevista...
-Vossa Excelência tem frigorifico?
-Tenho,mas porque me pergunta?
-È que se permite uma sugestão,poderia abastecer-se com uma quantidade razoável de ovos,visto que, no frigorifico,consevam-se muitos dias.
-Bem sei.Mas quero-os bem frescos.Dois de cada vez.
-Vossa Excelência é casado?Perdoe o atrevimento.
-Atrevimento?De modo nenhum!Sou casado,sou.Há uns bons anos.
-E janta, portanto, em casa.
-Quase sempre.
-Ah.
E não ousou ir mais longe.Em cada dia ,que entre ambos se insinuava uma convivência de ambiguidades,o logista avançava em passo miúdo na tentativa de decifrar o mistério...
-Pelo que deduzo, Vossa Excelência gosta  muito de ovos.
-Nem por isso.
Era demais.Aquilo excedia o que a curisidade e a compostura de um homem poderiam suportar.Sentia-se humilhado.Sentia-se humilhado desde o primeiro dia,para que negá-lo?Embrulhou os ovos à má cara,despediu o freguês
sem a saudação habitual.Porém num repente,foi sobre ele antes que passasse a porta,disse:
-Então os ovos são para alguém da familia...
-Não são para mim.
O logista mais não pôde que abrir a boca...
-Na vez seguinte,o logista escolheu com enfatuado desvelo os dois ovos...
-Sabe Vossa Excelência que tenho prazer em vender ovos?É que, para mim são um pitéu.Omelete com salsa...
-Pois eu nem com salsa nem sem ela.
-Ah.
No dia seguinte o logista aguardava-o junto ao balcão acompanhado de uma senhora um rapazola de uns catorze anos...,o grupo que paracia posar para um retrato,fitava-o com uma avidez imbuída de censura e reserva.Quanto ao logista entre o acusador e o triunfante:"Eu não vos dizia?É este."Aproximou-se de voz melada e irónica:
-Os dois ovinhos do costume,claro está.
-Aqui tem Vossa Excelência.Bom proveito.
No dia seguinte...
-Perdoe Vossa Excelência:gostaria de confessar uma curiosidade.
-Estou a ouvi-lo
-Bom o caso é este:os ovos,os dois ovos diários. não são para o senhor comer,não são para ninguém comer,pois foi o senhor a dizê-lo;então para que servem?
-Muito simples: para pintar.
O logista recuou,varado pela zombaria...,apontou o dedo trémulo...
-Diz Vossa Excelência que são para pintar.Tem graça.Carradas de graça.Para pintar de amarelo, bem entendido.
-De azul.Ou de violeta,vermelho,negro.-E após ter sublinhado uma pausa,falando espaçadamente e com uma deslavada
inocência:-Mas às vezes também de amarelo,de facto.
Olhando à roda,não fosse alguém reparar no diálogo,o logista retorquiu,sem já moderar o sarcasmo:
De azul , de preto, de violeta.Pintando!
-Com ovos
-O senhor, o senhor!-Estava prestes a pôr de banda todo o resguardo nas suas reações.Estava preste a esquecer,pela primeira vez na vida,que um cliente é um cliente.Mesmo sendo tonto ou lunático.Ou provocador.-Mas pintar aonde?
-Numa parede.No fundo da Alameda.Naquelas obras ao lado do Cinema.
-Ao lado do...No fundo da Alameda.
Há um tapume.è nessas obras.
-Mas isso é um café.
Vai ser Grande.O maior de Lisboa.
-A pintar.
-Com ovos,sim.O senhor pode ir lá ver.
-E vou .Quando?
-Quando quizer.Agora mesmo.
O logista ainda incrédulo disse e poderei ir depois de fechar a charcutaria?
-Claro que pode agora já sabe o sitio.
-Então lá estarei.
O homem divertido,foi saboreando a conversa ao longo da rua.Chegou à Alameda sem dar por isso.Começou a preparar a emulsão no almofariz.Aquilo servido numa travessa passaria por maionese.De um lado .a gema de ovo misturada com o óleo de linhaça;do outro o friso de latas com os pigmentos.Como estes eram uma poeira seca,aderiam ao pincel molhado na emulsão.Nada de colas.Estudara a técnica com todo o vagar.Lera alfarrábios,fizera experiências.A gema de ovo fora até ao século XVI um dos veículos das tintas.Os antigos não eram tolos.Para eles a arte começava na oficina. Interessara-lhes a gema de ovo, cuja albumina ligava perfeitamente a água ao óleo.Pintura co séculos de confirmação,resistindo às maiores usuras.Tinha de resultar.Mas quanto fizera sofrer o pobre logista!Exagerara.Sem premeditação,é certo empurrado pelas circunstâncias,pelos espantos,pelos tais laconismos.No entanto, talvez o enigma tivesse agitado a monotenia daquele viver.Batiam à porta, devia ser ele.Disse para o ajudante:
-Vai abrir  que certamentede é o senhor dos ovos.
-Procuro uma pessoa que pinta aí nas obras...,sentiu-se engolido por um tunel de surpresas:andaimes,o esgazeamento
de luzes crua.Não viu logo o seu cliente,porque este sumia-se no poleiro de cavaletes.Mas de lá lhe chegou uma vóz familiar:
-Trepe a essa mesa é mais fácil.
Levantou a cabeça para o alto,na direcção das lâmpadas que tinham o feitio de olhos de rã.Uma vasta parede de cal e areia, por onde progredia,uma labareda de cores,a incendiar os esboços de carvão,representando pessoas com o ar extasiado de quem aguarda um cometa no céu.Ei-los,os vermelhos,os azuis,,os amarelos.Aceitou a mão que o ajudava.O cliente vestia um fato de macaco e,na face encovada,ondeava a magia das sombras.
-Repare-dizia-lhe o pintor,numa inflexão paciente e bem humorada-,repare nesse almofariz.E nas cascas dos ovos.É assim que se fáz a mistura.Um pouco de pó vermelho e aí temos o pincel a fazer das suas.
O visitante permanece silencioso.Esforça-se por recuperar a sua personalidade de logista...
-Razão tinhao Vossa Excelência.Dois ovos por dia,claro.Não precisava de mais.Desculpe ter duvidado.Confesso que ainda me sinto confuso.Vender ovos para alguém pintar!-Apoiou-se no estrado,fitando o cliente com serena admiração  : -Tenho a honrra de estar falando com...
-Luis Dourdil,pintor.
-Agradecido a Vossa Excelência.O pior é que a minha mulher não vai acreditar.

       - Resposta a Matilde- de Fernando Namora  "DOIS OVOS AO FIM DA TARDE" conto verídico sobre Luis Dourdil          






(....)Luis Dourdil andou por estes meandros da "secção de ouro" e da "porta da harmonia" e de outras
formulações da raiz aristotélica e paciolitica, o bastante para aceitar e por ventura admirar a simbologia geométrica de Jacques Villon que muito preciosa lhe foi para essas difíceis abordagens. E andou o tempo bastante para usar esse relacionamento com a independência de quem aprende sozinho e sozinho solitariamente se encontra.(...)
 Mas o seu abraço ou fala o modo de sorrir eram, sem falha, tão imediatamente acolhedores!
Um pintor que, embora se visse, não se mostrava.(...)
O cubista mais racional de todos Juan Gris, o qual dizia que de um rectângulo de cor ou de um plano fazia uma garrafa
O mesmo que Dourdil à distância fez com as figuras que foi encontrando numa espécie de "promenade" ritualizada ao sabor de uma simpatia humana desperta ao espectáculo da vida.
Seres do acaso uns vagabundos,"motards", corpos perdidos sem desejo num banco de jardim, vultos: ou outro lado da vida, a inteireza de um corpo de peixeira na sua ortogonalidade sensual, diálogos sussurados de vendedeiras de mercado, belas como estátuas , seres todos eles, uns e outros de que um mundo suporta a existência ou, não por vezes, a sofrida inexistência.
Por esse labirinto ocupado que são a composição e a cena de um quadro de Dourdil passa, sente-se, e ouve-se um profundo silêncio.
A força dramática da obra...
Alguma coisa desse silêncio e dessa gravidade assenta naqueles cinzentos, por vezes frios com que enroupa a sua humaníssima figuração.Luis Dourdil é finalmente um admirável pintor do silencioso achamento da totalidade.                                                              Fernando de Azevedo (2001)In Cat. da Exp. Palácio Galveias Abril 2001

LUIS DOURDIL - PINTORES PORTUGUESES DO SEC.XX







"FOI ASSIM em 1935" LUIS DOURDIL TINHA 21 anos EXPOSIÇÂO "MOMENTO" GRÉMIO ALENTEJANO CLAUSTRO ÁRABE ACTUAL CASA DO ALENTEJO.

LUIS DOURDIL - PINTORES PORTUGUESES DO SEC.XX

"Miseráveis" 
NA BIBLIOGRAFIA DE DOURDIL ESTE DESENHO A LÁPIS de 1933 EXPOSTO NO GRÉMIO "MOMENTO EM 1935" FOI MUITO ELOGIADO PELA IMPRENSA DA ÉPOCA,QUE SALIENTAVAM " APESAR DA SUA EXTREMA MOCIDADE REVELA UMA FORMA PESSOAL PODEROSA" IN JORNAL O SÉC.12/06/1935

































IN JORNAL O SÉCULO DE 12/06/1935

LUIS DOURDIL - PINTORES PORTUGUESES DO SEC.XX

ALFAMA

CRAYON S/PAPEL 63X46 de 1961




Vimos chegar as andorinhas

conjugarem-se as estrelas

impacientarem-se os ventos

Agora

esperemos o verão

do teu nascimento tranquilos, preguiçosos

Tão inseparáveis as nossas fomes

Tão emaranhadas as nossas veias

Tão indestrutíveis os nossos sonhos

Espera-te um nome

breve como um beijo

e o reino ilimitado

dos meus braços

Virás

como a luz maior

no solstício de junho.

Rosa Lobato de Faria

LUIS DOURDIL - PINTORES PORTUGUESES DO SEC.XX


       
 DESENHO S/PAPEL 63X69 DE LUIS DOURDIL COLECÇÃO PARTICULAR

Escrito numa ânfora grega

E o teu amor que espalha a tinta
Na minha tela da cor da sede
Paisagem que a tua paixão pinta
Para eu pendurar numa parede.

Candidatura a bem-amado
Das minhas núpcias de aracnídeo,
Contigo a ver-me de um telhado,
Altura própria para um suicídio.

Mas prometida a um olhar marujo
Na lenda de um Fáon que nunca chega,
Quanto mais me amas, mais eu te fujo.
Falta cumprir a sina grega.



Natália Correia
Poesia Completa