quinta-feira, 27 de outubro de 2011

" Dourdil continuarás pelo tempo a existir em mim tanto como conselheiro como artista onde tanto "bebi" da tua arte. Obrigado" António Sem

Óleo S/Título de 1967
                                  
" Só Sinto melhor o espirito dos meus quadros ou desenhos quando os revejo depois de os ter esquecido"
                                                                                                               Luis Dourdil

Homenageando o desenhador e pintor Luís Dourdil, a exposição contou com dois grandes núcleos: um de desenho (Galeria Principal) e outro de pintura (Galeria do Pátio). Pretendeu-se assim dar a ver a relação de completamentaridade existente entre as duas linguagens preferenciais do autor, o modo como a pintura se libertava do desenho e o modo como o desenho se assumia como linguagem sintética, reduzindo-se ao essencial, depurando-se em traços quase reduzidos a uma sugestão formal. Além de uma breve antologia, o catálogo conta com textos inéditos de Ana Isabel Ribeiro, Ana Ruivo e Rogério Ribeiro. Coordenação geral: Ana Isabel Ribeiro.


Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea. Câmara Municipal de Almada 2002

(...) "Pequena história que ilustra bem o seu carácter.Dourdil trabalhava num atelier nos Corochéus cujos jardins envolventes, a partir de determinada altura foram palco de habilidades motorizadas diversas.O ruído produzido era extremamente perturbador do seu trabalho,interferindo demasiado no seu silêncio peculiar.Foi então que Dourdil interpelou esses jovens,convidando-os,inclusivamente, a visitar o seu atelier,mostrando-lhes o seu trabalho,em muitos dos quais figuravam esses mesmos jovens de jeans e capacetes em deleites fortuitos nos relvados.Chegaram então a um acordo:quando Dourdil estivesse a trabalhar,colocava à janela um pano vermelho,sinal suficiente para que os motores se silenciassem na proximidade do atelier.Note-se que este acordo foi honrado,para espanto de outros".(...) Ana Isabel Ribeiro in Luis Dourdil O Lápis Como Instrumento Soberano Catálogo Casa da Cerca


(...) "Dourdil (Nasceu em 1914) é porventura o mais velho autor de pinturas que curiosamente incidem numa temática actual: a juventude marginal que,de "jeans","ténis" e capacetes de motorizadas,se deita descuidadamente nos jardins públicos,onde, ao sol,esboça delicados gestos de ternura,e amor: e retrata também a massa humana e anónima que diariamente se comprime no metropolitano e nos autocarros.Não há rostos na sua figuratização abstractizante,mas apenas corpos vestidos ou volumes diluídos num espaço de luz ténue,que através de uma subtil gama de cinzentos na articulação de formas e planos."(...) Eurico Gonçalves in Catálogo " A Gaveta do Artista",1986
Sem /Título,s/data   Óleo s/tela 125x92

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

DOURDIL in Rocha de Sousa

" A sua obra enche-se  progressivamente de silêncios falantes,há nela uma sufocação magoada,a memória das dilacerações,a paisagem privada de som físico e suspensa de uma espécie de tragédia sem nome.Estilhaçadas, as formas vivem trajectórias incumpridas,desfazem-se e refazem-se em câmara lenta,como num filme irreal e, no entanto,comovente de humanidade."
 Rocha de Sousa in DOURDIL Col/Artes e Artistas Imprensa Nacional Casa da Moeda

Luis Dourdil-Pintores Portugueses do Século XX

"A figura humana é o pretexto de todas as composições de Luis Dourdil,de picturalidade serena e sensível,respeitadora da superfície do suporte.Os espaços cheios e os vazios são tratados com igual cuidado; a cor apresenta-se em planos paralelos ao plano da tela,escalonando-se em profundidade,num rigor visual que a torna mais complexa e melhor adaptada ás inflexões da sua sensibilidade,no jogo subtil de transparências que se equilibra com a procura de luminosidade."
Rui Mário Gonçalves in 100 Pintores Portugueses do Século XX

PINTURA/DESENHO de Luis Dourdil /Óleos s/papel

Óleo de Luis Dourdil com o" Título Recordando Nicolas de Stael", sem data

"Luis Dourdil era um autodidacta.
Para aventura da pintura partira com o benefício,que tantas vezes acaba por se revelar uma limitação,de ser realmente dotado para reproduzir o real.O desenho e a sua prática emergia como meio mais fácil para dar existência concreta a este dom e viria a afirmar-se como uma vertente de tal modo significativa que a própria pintura se tornaria dele inegavelmente tributária."                                 António Bacalhau in catálogo da Galeria 111 Setembro de 1991

Operação Cirúrgica Homenagem de Dourdil a Jacques Villon

"Em 1963 a pintura decorativa Operação Cirúrgica é talvez a mais geometrizada e de cromatismo mais violento.Mas essa sentida homenagem constituiu também uma despedida,passando Dourdil a praticar um desenho menos predeterminado.Linhas sensíveis revelam o diálogo entre a mão e o olhar do pintor,na construção de um espaço que é sempre entendido através da sugestão da figura humana,em desenhos que valem por si mesmos,ou em pinturas de harmónicos valores luminosos."                                                      Rui Mário Gonçalves in 100 Pintores Portugueses do Século XX Publ.Alfa

domingo, 2 de outubro de 2011

Exposição de Pintura e Desenho Galeria 111 Setembro/1991 Óleo s/tela 92x125

"Dourdil era um homem brando,contido e calmo que na sua humildade e modéstia escondia uma profunda ternura.Autodidacta sem que dessa circunstância jamais se pavoneasse.As suas obras expressam com extraordinária originalidade o panorama pictórico nacional.A expressão serena dos seus desenhos e óleos nunca se afastou totalmente de uma figuração tratada com linhas ou tons vibrantes que,paradoxalmente nasciam de um traço leve e da utilização de cores neutras." - António Pedro Vicente in Catálogo da Exposição Luis Dourdil Pintura e Desenho,Galeria 111, Set.1991Ver mais

Exposição de Pintura e Desenho de Luis Dourdil - Óleo s/Tela de 1984 - 130x120 Palácio Galveias-2001

"Luis Dourdil,discreto e organizado,pintou (superiormente) como viveu,inteiro,com coerência,numa espécie de modéstia ao mesmo tempo perplexa e empolgada,sentido por dentro as suas referências culturais,auto-aprendizagem,o correr da História.Entrar no seu atelier do Coruchéus era descobrir-lhe a ordem,a serenidade do lento e longo diálogo com as aparências.os materiais e as matérias da pintura,o equilíbrio de um profissionalismo conquistado em muitos anos de pesquisa gráfica.É preciso reafirmar que Luis Dourdil é um dos principais autores da pintura moderna portuguesa e que a justiça de que porventura beneficia agora chegou tarde e mal dimensionada no confronto com personalidades,suas contemporâneas, de idêntico valor.Isso pode dever-se em parte,ao modo de ser do artista,à sua modéstia,mas deve-se também,e sobretudo,à incapacidade dos nossos analistas para escapar a este fenómeno provinciano(de mimetismo complexado) que os reduz aos padrões consumíveis da moda e os impede de assumir,com isenção científica,critérios históricos e estéticos,o estudo plural de modos de formar que se distinguam,em exemplar qualidade,daquele tipo de referências.
Dourdil não foi um autor de circunstância.Não teve nunca de se submeter o mundo das suas formas e da sua ecrita aos postulados efémeros da exterioridade consumista.Não teve porque acreditava no valor intrínseco das suas descobertas e conferia maior importância ao trajecto lento mas sincero,e essa interioridade que sempre sobrepôs." - Rocha de Sousa in Artes Plásticas,nº1 Jul.1990

Pintura / Desenho Exposição de Luis Dourdil na Galeria 111- Setembro de 1991

" Conheci o pintor Luis Dourdil há mais de quarenta anos quando,já relacionado com assuntos de arte embora longe de vir a ser exclusivamente profissional nesta área,lhe fiz uma encomenda de carácter gráfico.A partir daí nasceu uma amizade,consolidada ao longo dos anos.A presente exposição tem para mim uma intenção e um significado que ultrapassa a minha normal actividade de galerista.Dourdil foi um dos melhores pintores portugueses da sua geração.um grande artista e homem, de quem me orgulho de ter sido amigo."- Manuel de Brito in Catálogo da Galeria 111-Luis Dourdil Pintura E Desenho/Setembro de 1991.
"Apesar da sua personalidade discreta,Luis Dourdil não deixou de exercer um continuado protagonismo na estagnada cena artistica nacional da primeira metade do século,sendo mesmo um dos principais nomes que,vindos dos anos 30,conseguiram projectar com sentido de sobrevivência a sua obra nas décadas seguintes...
Dourdil elege os temas que servirão para dar continuidade a um trabalho feito com a convicção de quem descobrira a força da autenticidade e a prevalência de valores como a coerência.Na constância do seu trabalho são observáveis transformações que não representam mais que o normal fluir de uma linguagem.Grupos humanos surpreendidos nos transportes públicos,no limiar de uma viagem que nunca acaba,porque todos os dias recomeça.Jovens ociosos,envolvendo-se em abraços que parecem fundir os corpos...
Dourdil conquistara a serenidade dos espiritos livres.Era finalmente um Mestre."- António Bacalhau in Catálogo da Galeria 111-Luis Dourdil Pintura E Desenho/ Setembro de 1991.