sexta-feira, 1 de março de 2019

Eu creio que Dourdil andou por estes meandros 
da "secção de ouro" e da porta da harmonia...
Desde a monumentalíssima e tão belamente ritmada composição, executada a têmpera na grande tradição do "fresco", (Café Império),até as pinturas bem menores ou simples desenhos, Dourdil foi ritualizando como uma espécie de "promenade" do espectáculo da vida com seres do acaso,"motards",jovens apaixonados,vagabundos,vultos; ou o outro lado da vida,a inteireza de um corpo de peixeira na sua ortogonalidade sensual, diálogos sussurrados, de vendedeiras de mercado, belas como estátuas...

Nenhum destes corpos perde alguma vez a majestade da atitude,uma espécie de dignidade clássica que confere o respeito à representação. É este acerto,raro neste tempo em Portugal -só Almada o conseguiu- que surpreende e dá a toda a obra de Dourdil uma excepcional presença no contexto português. Luis Dourdil é, finalmente um admirável pintor do silencioso achamento da totalidade.

Fernando Azevedo Março de 2001 InLuis Dourdil-Exp. de Pintura e Desenho:Palácio Galveias





Óleo s/tela 120 X 130 do ano de 1973. Colecção de arte do Grupo Totta.© All rights reserved

Pintura Portuguesa Luis Dourdil



Autor de uma pintura de fundo lírico da Segunda Geração de pintores portugueses do séc. XX foi galardoado com o Prémio de Desenho da Casa da Imprensa (1965) e com o 1º Prémio de Pintura do Ministério da Cultura na exposição de homenagem dos artistas portugueses a Almada Negreiros (1984), estando a sua obra representada em Lisboa no Museu da Cidade, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, na Sociedade Nacional de Belas Artes, no Museu do Chiado/ Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Museu da Electricidade, no Museu Abel Manta (Gouveia), Museu de Amarante, Museu Machado de Castro (Coimbra), Museu Tavares Proença Júnior (Castelo Branco) e no Museu de Serralves (Porto)..







Tempera S/ Tela 127 X 92.5 P.II 1974 - Luís Dourdil
Colecção CAM Fundação Calouste Gulbenkian.
© All rights reserved



"Quase ninguém repara em ninguém. Em parte porque o espaço que nos circunda está cheio de chamadas, de perigos e de júbilos; o ser humano, longe do que se pensa, é o que menos se nota no mundo."
Agustina Bessa-Luís


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

"A figura humana é o pretexto de todas as composições de Luis Dourdil, de picturalidade serena e sensível, respeitadora da superfície do suporte.
Os espaços cheios e os vazios são tratados com igual cuidado; a cor apresenta-se em planos paralelos ao plano da tela,escalonando-se em profundidade,num rigor visual que a torna mais complexa e melhor adaptada ás inflexões da sua sensibilidade, no jogo subtil de transparências que se equilibra com a procura de luminosidade."


Rui Mário Gonçalves in 100 Pintores Portugueses do Século XX




Óleo s/Tela ano 1980  de Luís Dourdil colecção particular © All rights reserved


"A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz."

José Saramago
        

Pintura Portuguesa


(...) Durante os anos cinquenta,os artistas modernos portugueses concentravam a sua meditação no confronto de duas concepções pictóricas: a figurativa e a abstracta
Havia os radicais,a favor de uma ou outra concepção, e havia os que procuravam sínteses.
A novidade estava na arte abstracta.
Mas os mais velhos e os mais informados não podiam esquecer que os pintores naturalistas eram bastante mais dotados e que o Naturalismo permanecia no gosto dominante da sociedade portuguesa.
A vontade de aproveitar o máximo de ambas as concepções, figurativa e abstracta acompanhava a vontade de aproveitar o máximo de todas as artes.

Luís Dourdil foi realizando, lentamente, com segurança uma obra de grande unidade estilística,passando de um realismo minucioso de "Homens de Fogo"(1942) a uma figuração abstractizante.

Rui Mário Gonçalves






                  Pintura a óleo de Luís Dourdil - Ano 1980  © All rights reserved C/particular








Pintura Portuguesa




Para o situar a geração de Dourdil, vale a pena lembrar os nomes de alguns pintores portugueses que nasceram nessa década:

" Mário Dionisio, Álvaro Perdigão, Manuel Filipe, Manuel Ribeiro Pavia, Estrela Faria, Augusto Gomes, José de Lemos, Paulo Ferreira,Cândido da Costa Pinto, Magalhães Filho, Guilherme Camarinha, Manuel Lapa, António Dacosta, João NavarroHogan, Luís Dourdil, Maria Keil, Júlio Resende, Joaquim Rodrigo e José Júlio, nascidos também na mesma década,vieram a revelar-se pintores, mais tarde do que os outros.

É um conjunto de artistas que fazem charneira entre a geração de Botelho, Eloy, Júlio, Alvarez, e a geração de Pomar, Lanhas, Vespeira e Fernando de Azevedo. Vieira da Silva era ainda muito pouco conhecida, por viver fora de Portugal. 
O fluir da vida cultural deve ser conhecido se queremos entender alguma coisa da acção dos protagonistas".

Rui Mário Gonçalves




Varinas de Luís Dourdil"- © All rights reserved

Maria Lisboa



É varina, usa chinela,
tem movimentos de gata;
na canastra, a caravela,
no coração, a fragata.

Em vez de corvos no xaile,
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
baila no baile com o mar.

É de conchas o vestido,
tem algas na cabeleira,
e nas velas o latido
do motor duma traineira.

Vende sonho e maresia,
tempestades apregoa.
Seu nome próprio: Maria;
seu apelido: Lisboa.




David Mourão Ferreira