quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

LUIS DOURDIL -PINTORES PORTUGUESES SEC.XX
LETRAS E ARTES de 14- 06-1975
LUIS DOURDIL
" Um artista na continuidade e na renovação"
"Mais de quarenta anos de experiência, aberta a uma sempre livre inspiração pessoal e, ao mesmo tempo, a um apuramento técnico amadurecido, lúcido, intransigente com a sua mesma facilidade, fizeram de Luis Dourdil um dos pintores e desenhadores mais seguros de si mesmo nas artes plásticas de Portugal moderno.A sua obra foi sempre e é agora mais do que nunca a de uma personalidade forte, exprimindo-se sem influências que possam ser dependências. E é uma obra excepcional em que a força e firmeza, sem necessidade de feitos nem de rebuscamentos dão uma <verdade> de visão de artista que só deve a si próprio".
Mário de Oliveira


Era uma sensibilidade extraordinária, o Luís Dourdil; e como essa sensibilidade se aliava a grandes conhecimentos de arte e ao domínio inteiro da técnica, em particular do desenho, o Dourdil tinha todas as condições para ter sido um nome de primeiro plano na Arte Portuguesa do nosso tempo. O seu desenho tem uma leveza e, ao mesmo tempo, uma força que marcam a personalidade do artista”.

Raul Rego

Em 1935, surgiu pela 1ª vez na Exposição de Arte Moderna, organizada pela revista de Cultura e Arte “Momento”. 

Entre 1944 e 2000, a sua obra pôde ser apreciada de norte a sul do País em exposições colectivas.

Em 2001 a obra do pintor foi divulgada numa exposição de carácter retrospectivo, no Palácio Galveias, organizada pela Câmara Municipal de Lisboa, de forma a enriquecer a possibilidade dos Lisboetas apreciarem o conjunto de obras que lhes falam dos seres e da cidade.
Em 2014/ 2015 realizou-se os 100 Anos do seu nascimento com várias efemérides, tertúlias, exposições colectivas e 4 individuais.  


Orquestração de subtileza

Luís Dourdil é um criador. Pintor figurativo abstractizante é um dos grandes nomes da actual pintura portuguesa contemporânea.

A pintura de Luís Dourdil, que tenho acompanhado de perto nos dois últimos anos, incluindo os sucessivos encontros que com ele mantive no seu “universo” O ATELIER, permite-me abordar, em linhas gerais, o percurso humanitário e artístico do pintor.

O encontro no “atelier” dá para perceber o homem e o artista.

Na parede, extracto e memórias de toda uma vivência.

Não é fácil, hoje em dia, entrarmos no campo em que a sensibilidade representa o melhor juiz.













Luís Dourdil apresenta-se como um homem jovial, cheio de vitalidade e discreto.

A sua visão do mundo recorta-se de forma íntima, concentra-se sobre os objectos e os seres para os projectar no espaço. É o tempo da meditação. É o tempo do silêncio.

Tempo em que o pintor pensa o que deve pensar, isto é: o que deve ver. Fiel às formas que descobre e que o absorvem, a sua obra pictórica é uma suave orquestração de subtileza, embora não esconda o vigor do seu carácter. Ele vai buscar ao quotidiano as cenas que guarda religiosamente no seu íntimo.

O seu olhar persegue o mundo das coisas, dos objectos, dos corpos.

Depois, transmite nas telas a dinâmica interna e surda das formas.

Pintura eminentemente sociológica onde se vêem destroços humanos; jovens em poses de um convívio de amor, jardins invisíveis; pessoas sem rostos viajando no metropolitano, etc. São as mensagens em torno do homem anónimo.

Luís Dourdil é um pintor cheio de defesas, fiel a si próprio e aos seus ideais.

Vejo-o a olhar a tela. Hesita. Medita. Pintar lentamente é, para Luís Dourdil, a consolidação da essencialidade, pelo sentido e medida que tem do seu silêncio e como tenta preencher os vazios do mundo.

O trabalho das tintas moldadas por um tratamento abstratizante expande-se em manchas, em toques, em planos e breves contrastes, na conjugação discreta mas sólida do mundo já visto e indiscutivelmente de novo dado a ver como facto redescoberto.

Conjugando um saber e uma experiência com problemas que acompanham o homem desde que ele tem consciência de ser, a sua pintura dos últimos anos, posiciona-se juntamente na confluência de dois vectores: a imagem e a forma.

Os esquemas compositivos que na sua simplicidade, ou incluem um espaço noutro espaço, ou se dispõem em planos.

É na adolescência que Luís Dourdil inicia o seu trajecto plástico, sobretudo no desenho. Até aos 30 anos o desenho é a sua matriz – núcleo imaginativo das coisas e dos seres. A sua temática abrange as gentes anónimas do meio urbano, gentes da ribeira, gentes de Alfama, trabalhadores a preto e branco.

Os bairros de Lisboa são objecto da sua pintura que se prende às sombras, aos grupos de trabalho ou à deambulação desempregada, nunca se fixa no recorte pitoresco. O mundo dos humanos constitui o seu apelo.

Nos anos 40, visita várias cidades da Europa e a sua visão emerge, plena de síntese, de acordo coma sua própria concepção plástica.

Nos anos 50, época da maturidade, o pintor capta, definitivamente, os alicerces estruturais e estéticos do seu edifício plástico.

A suavidade da cor, as sombras, as névoas, as geometrias cénicas.

É o tempo dos silêncios falantes!

In O Século, 2 Fev.1989

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Tempera S/ Tela 127 X 92.5 P.II 1974 - Luís Dourdil
Colecção CAM Fundação Calouste Gulbenkian.
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”.A mais bela de todas as certezas é quando os fracos e desencorajados levantam suas cabeças e deixam de crer na força de seus opressores”.
Bertolt Brecht 1898-1956
 http://lm.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fcam.gulbenkian.pt%2FCAM%2Fpt%2FColecao%2FAutores&h=mAQFv3WKt&s=1
Para o situar a geração de Dourdil, vale a pena lembrar os nomes de alguns pintores portugueses que nasceram nessa década:
" Mário Dionisio, Álvaro Perdigão, Manuel Filipe, Manuel Ribeiro Pavia, Estrela Faria, Augusto Gomes, José de Lemos, Paulo Ferreira,Cândido da Costa Pinto, Magalhães Filho, Guilherme Camarinha, Manuel Lapa, António Dacosta, João Navarro Hogan, Luís Dourdil, Maria Keil, Júlio Resende. Joaquim Rodrigo e José Júlio, nascidos também na mesma década,vieram a revelar-se pintores, mais tarde do que os outros.
É um conjunto de artistas que fazem charneira entre a geração de Botelho, Eloy, Júlio, Alvarez, e a geração de Pomar, Lanhas, Vespeira e Fernando de Azevedo. Vieira da Silva era ainda muito pouco conhecida, por viver fora de  Portugal. O fluir da vida cultural deve ser conhecido se queremos entender alguma coisa da acção dos protagonistas".

Rui Mário Gonçalves
S.N.B.A. 06 de Junho de 1960
-Celestino Alves, Carlos Botelho, B. Tavares, Conceição Silva, Anjos Teixeira, Peres Fernandes, José Júlio, Machado da Luz, Luís Dourdil
Sentados -Abel Manta, Abílio Mereles, Pedro Guedes e Frederico George.
"Registos de uma vida"
Decorria o ano de 1990, poucos meses depois do falecimento do pintor quando a Galeria de Arte do Casino Estoril lhe dedicou uma «Exposição/homenagem» e na qual participaram 72 artistas portugueses. 
Entre as várias obras presentes nesta homenagem, algumas dedicadas ao autor, encontrava-se este Óleo s/tela da autoria seu amigo e pintor Victor Paula retratando Dourdil.

 Ilustração da capa de Luís Dourdil 
"Hino intraduzido "___ 2015.

"Atelier nº6 - Palácio dos Coruchéus.
Poesia de Maria do Sameiro Barroso 


Este livro reúne poemas escritos em castelhano, publicados e inéditos, agora traduzidos para português, nos quais a autora regista experiências colhidas em encontros de poesia, em Espanha e Marrocos e participação em antologias dedicadas a causas sociais e humanitárias. A figura do pintor Luís Dourdil que foi amigo da autora e que assina o desenho inédito da capa, é também evocado. Uma entrevista pela notável poeta andaluza Ana Patricia Santaella ilustra o diálogo fértil, iniciado entre ambas, num dos encontros de poesia, en Tetuán, em 2009, onde se conheceram.

Maria do Sameiro Barroso é uma poetisa portuguesa.

É licenciada em Filologia Germânica, em Medicina e Cirurgia, pela Universidade de Lisboa. Doutoranda da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Estudos Portugueses. Faz parte dos Corpos Directivos do Pen Club Português, do Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arqueologia e do Núcleo de História da Medicina da Ordem dos Médicos. Inicialmente vocacionada para a poesia, tem vindo a alargar a sua actividade à tradução de autores de língua alemã, ao ensaio e à investigação no âmbito da História da Medicina.[1]

https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_do_Sameiro_Barroso

Luis Dourdil 1914 -1989
Óleo s/Tela 120 X 86 1964 colecção particular.

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"Arte Moderna Portuguesa", Lund, Suécia 1976.
"Arte Portuguesa Contemporânea" em Brasília
São Paulo e Rio de Janeiro 1976.
Exposição de Pintura e Escultura Contemporâneas.
Madrid 1977
Bienal Ibero-Americana de Desenho, Cidade do México 1980.



“A Pintura Antes de Tudo: Desenho e Pintura” 
Exposição Individual de Luís Dourdil, que já passou pelo Museu Municipal de Coimbra, e pelo Museu Municipal Santos Rocha na Figueira da Foz onde esteve patente ao  dia 31 de Janeiro de 2016 inseridas ambas as Exposições, nas iniciativas comemorativas dos 100 anos do nascimento do pintor.

A mostra é organizada pela autarquia figueirense que descreve Luís Dourdil como um “talentoso gráfico, desenhador, muralista e prolífero pintor”, cuja “qualidade técnica das suas obras, bem como a elevada cultura pictórica estão 
em conformidade com a geração de artistas em que se moldou e conviveu”.
Crayon s/papel de 1979
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"A arte oferece-nos a única possibilidade de realizar o mais legítimo desejo da vida - que é não ser apagada de todo pela morte. "
Eça Queirós

Retrato _cortesia de Alda Cravo Al-Saude da autoria de
Luís Dourdil
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Luis Dourdil  1914 - 1989


"Eram de longe.

Eram de longe.
Do mar traziam
o que é do mar: doçura
e ardor nos olhos fatigados."
Eugénio de Andrade 






Luís Dourdil
Óleo s/tela 112 X 72  Ano 1972
"Homem de castanho" Inspirado na figura do alentejano com a sua samarra"
© All rights reserved C.P.

Alentejo!
Minha terra total!
Meu Portugal
Aberto,
Eternamente incerto
Nas fronteiras, no tempo e nas colheitas!
Minhas desfeitas
Praças fortificadas!
Minhas insatisfeitas
Correrias,
A contar no franzido das lavradas
As rugas tatuadas
No rosto dos meus dias...

Miguel Torga