segunda-feira, 10 de setembro de 2012

LUIS DOURDIL - PINTORES PORTUGUESES DO SEC.XX

 ÓLEO S/TELA S/ TÍTULO de 1980  93X127 FASE"JOVENS"

 " Dourdil é um nome com a linearidade de um desenho. Não de um desenho directo a um fim, mas quebrado e às vezes   mesmo enredado no percurso, como este que ele um dia me deu e tenho agora aqui diante de mim. Encontrávamo-nos com frequência quando eu ia à cantina para almoçar e ele vinha do atelier para almoçar. E tínhamos palavras breves nesse encontro breve. Assim calhou uma vez dizer-lhe, um pouco ao acaso,que o desenho lhe fundamentalizava a  pintura , não a cor:

 Você é da lingagem de Florença não de Veneza.

Ele fitou-me com o seu olhar directo e imóvel, à procura, na pergunta que havia em mim, de uma resposta que houvesse nele.

 Deve tê-la achado no seu modo de ser amável ao dizer-me apenas - 

Talvez!

Mas é possível que tudo se reduzisse à dificuldade de encontrar aí o que fosse  plausível, o que também respondesse ao que na sua pintura era a sua cor grave sólida de peso e estável. E è esse modo estável, diria talvez mesmo discreto da sua cor toldada de uma noite oblíqua e longínqua, que me faz agora emergir a sua obra para a memória nublada e um pouco já distante, que ela me ficou".   

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   Vergílio Ferreira                                                                       In Jl,13 mar.1990






LUIS DOURDIL - PINTORES PORTUGUESES SEC.XX

LUIS DOURDIL - 1914 - 1989

ÓLEO S/TELA - DE 1979  -  COLECÇÃO CAMJAP - FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN  

(...)
"Dourdil foi um mestre do equilíbrio de diversas aprendizagens
do seu tempo, tanto na ordem de uma figuração transgredida como no âmbito de uma insinuação abstracta ao mesmo tempo pressuposta e exposta. E o enlace de tais processos de construir e de formar permitiu-lhe, sem a demagogia de certas denúncias superficiais,alcançar níveis de significação onde acabava por prevalecer um especial sentido do drama.O drama social, sem dúvida, mas sobretudo no plano de grandes sínteses,entre brumas, desencantos e fugazes anotações líricas sobre lugares anónimos,sobre protagonistas mascarados de sombra, sobre abraços e mortes lassas de um quotidiano cada vez mais absurdo.
Contemporâneo da literatura do absurdo, mas não empenhado em a seguir ou ilustrar, Dourdil é dos autores portugueses que melhor entenderam esse não sentido do enganador sentido das aparências, quer do ponto de vista gestáltico,quer do ponto de vista existencial e filosófico. É por isso que a sua pintura nos mostra gente em espera,pedaços de corpos,sonos,sem amanhecer,solidariedades desesperadas,um grito silencioso que podemos conotar,passando por cima do lado imediato da forma com o teatro de Beckett ou a inquietante ausência de resposta, das melhores alegorias de Kafka.(...)
                                                          Prof. ROCHA DE SOUSA
                                                     In Artes Plásticas nº 1 de 1990