domingo, 25 de maio de 2025

Memórias

 

Programa de artes plásticas apresentado por #fernandobalsinha dedicado à vida e obra artística do pintor Luís Dourdil, com a entrevista no seu atelier, e ainda o destaque para as exposições individuais e coletivas de arte moderna e contemporânea ocorridas em Lisboa entre 1973 e 1974, incluindo exposições dos artistas plásticos Victor Vasarely, Ana Vieira, Manuel Cargaleiro, José Cândido, Júlio Pomar e Bengt Lindstrom



             Vídeo disponível no Arquivo RTP   https://arquivos.rtp.pt/conteudos/luis-dourdil/

Entrevista ao pintor, no seu ateliê  





















      

https://corucheus50anos.lisboa.pt/artistas-e-atelies

Luís Dourdil

n.1914 em Coimbra

viveu até 1989


Ateliê 6, desde 1972 a 1989


Autodidata, foi pintor, artista gráfico, desenhador e muralista.

O seu percurso artístico iniciou-se em 1935, como desenhador, tendo por principal inspiração a vida urbana e os habitantes da cidade. Nos anos 40, Luís Dourdil visitou várias cidades europeias, o que se refletiu na sua pintura na década seguinte, através da coexistência da figuração e da abstração.

Como muralista, são de salientar o mural que realizou para o Laboratório Sanitas (atualmente no Museu da Farmácia) e a pintura mural do Foyer de Honra do Cinema Império (ambas de 1945); a pintura mural no Café Império (1955) e, ainda, a pintura mural do Restaurante Panorâmico de Monsanto (1967).

Em 1966, desenhou selo de correio comemorativo do 2º centenário de nascimento de Bocage, que circulou até 1973.

Em paralelo com a sua intensa atividade artística, ocupou cargos diretivos na Sociedade Nacional de Belas Artes (1957-1963).

Realizou e participou em inúmeras exposições individuais e coletivas no país e no


estrangeiro. Recebeu vários prémios, nomeadamente o 1º Prémio de Pintura (Secretaria de Estado da Cultura), na exposição de homenagem dos artistas portugueses a Almada Negreiros (1984), encontrando-se a sua obra referenciada em várias publicações.

O seu nome faz parte da Toponímia de Almada (Freguesia da Charneca de Caparica); Cascais; Lisboa (Freguesia de Marvila); Seixal (Freguesia de Fernão Ferro) e Sesimbra.




Revisitar a sua obra, é uma forma de aceder ao pintor Luís Dourdil, é favorecer a manutenção da memória e da sua identidade plástica; é possibilitar a continuação de estudos e mostrar ao público um dos grandes artistas do século XX.

Memórias E Factos



https://nac.cm-tomar.pt/luis-dourdil-11-exposicao-galeria...


José Augusto França  Foi um historiador, sociólogo e crítico de arte português. 

O Historiador fala da obra e do pintor luisdourdil  

"Fernando de Azevedo apresentou, uma importante retrospetiva de Luís Dourdil nas Galveias, na Primavera do ano passado; devíamos tê-la visitado juntos, mas acabou por não ser assim.

 Éramos ambos velhos amigos do pintor e teríamos falado dele aqui, a duas vozes, se, entretanto, e tendo concordado comigo na exposição de hoje, o Fernando não tivesse morrido também. O que ele escreveu do Dourdil e aqui repetiria seria bem parecido com o que eu vou escrever, ausente do país para poder dizê-lo de viva voz Infelizmente. Tristemente.

Os dois e pensando no terceiro, podíamos falar de uma pintura em que os três fomos formados — “Escola de Paris”, necessariamente, de depois da guerra, e vindo de trás, de cubismo em cubismo, como aprendemos, para experimentar e fazer, eles, por dentro, ou para ver, eu, por dentro também, que é maneira de ver pintura de outrém com a devida cumplicidade, de quem vê e dá a ver.

Deram-nos a ver todos os fautores de uma história de pintura ocidental que em Cézanne se refez, por via do espaço do renascimento. Poussin conforme a natureza, e os cubos, as esferas, as pirâmides — as pirâmides sobretudo, em que o ver se conhece e dá a conhecer. Até que o momento tenha chegado de aproveitar a dissolução impressionista da natureza para voltar a fazê-la, numa criação outra em que, agora, são os sólidos desejados que se desfazem, na dialéctica das suas ocultas forças...

Quem assim mais particularmente se situa é Jacques Villon. O Fernando di-lo, digo-o eu, e com certeza que ambos o dissemos ao Dourdil — que bem o sabia, ele que era da mesma e mui rara raça cultural. Uma sensibilidade austera, com uma leve ironia nas perguntas que cada forma fez à outra forma, capazes de serem corpos e gente lidando num quotidiano silencioso e discreto.

A pintura e o desenho de Luís Dourdil têm essas duas qualidades por essência, vindo donde vêem por educação de geração e passando através de situações diversas que foram de um expressionismo generalizado em várias posições da história da pintura — indo de Paris para Nova York e de lá voltando modificada para novas aventuras de muita imitação e modas, ao longo de duas gerações depois da do pintor que sossegadamente ficou igual a si mesmo. Igual mas vivendo num permanente e sincero interrogatório de pintura, para saber como era a sua vocação de pintor. “Escola de Paris”, na sua verdade, por outra nessa verdade não haver...

Mas, como em nenhum outro pintor da sua geração, que é ainda a “segunda” do modernismo nacional, numa “Escola de Paris” entendida necessariamente em Lisboa, pela naturalidade da sua afectação, e sem qualquer prática, que seria ilusória, de viagem ao estrangeiro parisiense. Viagem, sim, fê-la Dourdil no interior da sua permanente pintura, vendo as figuras dos painéis das defuntas C. R. G. E. de antanho, na sala de atendimento da Rua do Crucifixo (onde o pintor me levou a ver, para boa conversa, em anos 50) mudarem-se em outras, de definição diluída até à consciência da sua estrutura obviamente abstracta, ou nem uma coisa nem outra, por ambas ser, na enorme têmpera pintada numa parede do Café Império, defunto também no tempo em que cafés havia na cidade. E onde o pintor me levou, outra vez consigo, para ver e conversar...

Dourdil, modesto por temperamento, discreto por boa educação, nisso alheio a corridas e mercados que aliás a sua geração não teve a dita de conhecer, fez, no seu atelier dos Coruchéus (onde tantas vezes subi para ver, folhear e conversar, conversar) uma obra de dezenas e dezenas de desenhos, pegando sempre na mesma folha de 100 por 70, ou 86 por 61, e no mesmo carvão que ia gastando lentamente, em gestos precisos de mão e de olhar... Uma obra que importa situar em quase cinquenta anos de prática, numa história de pintura portuguesa atentamente olhada para além de pressas e êxitos de bilheteira."

José-Augusto França

(Jarzé, Outubro 2002)






“A «Segunda Geração»:


Pintores, Eloy, Júlio Alvarez, Botelho Bernardo Marques. Sara Afonso. Ofélia Marques. José Tagarro. Lino António. Augusto Gomes. Tomás de Melo –Tom. Estrela Faria, Magalhães Filho,Manuel Lapa e Frederico George Luís Dourdil

Luciano Santos. Maria Keil, Martins Correia ,Guilherme Camarinha e a tapeçaria. António Lino e o mosaico. Paulo Ferreira. Júlio Santos. Guilherme Filipe, Carlos Carneiro, Eduardo Malta e outros. João

Carlos. Roberto Nobre. Arlindo Vicente. José de Lemos. Hansi Staël e os estrangeiros.

José-Augusto França in A História da Arte em Portugal no Século XX 1911-1961


José Augusto Rodrigues França GOIH • GCIH • GCIP • GCSE (Tomar, 16 de novembro de 1922[1] – Jarzé-Villages, 18 de setembro de 2021) foi um historiador, sociólogo e crítico de arte português.

Professor catedrático jubilado da Universidade Nova de Lisboa, é considerado um nome maior da historiografia da Arte em Portugal. "França é uma figura maior da Cultura Portuguesa. Poesia, cinema, pintura, arquitetura — pouco há que não interesse a este homem renascentista que privou com os melhores criadores e pensadores do último século".[2][3]


________________ MEMÓRIAS E FACTOS ________________


" (...) usando têmpera de ovo, Dourdil criou um imenso espaço cénico, nem profundo nem apenas bidimensional, povoado de figuras humanas, ora sentadas ora de pé, em grupos também, na simplificação nivelada então garantida pela perfeição das soluções, dos meios tons, das sombras suaves e das distâncias lumínicas, rectangulares, tudo apreciável em travelling lateral, o lugar ou o labirinto da meia festa daquela gente emblemática, a execução solta e exacta, os valores macios, as arestas mais

pressentidas do que ostentadas, um murmúrio de vida colectiva a mover-se em câmara lenta, sublinhando a ideia sem nomes do grande espaço cénico do café, memória de belas salas de fumo de teatros e cinemas( ...)"

Rocha de Sousa 




 

Luis Dourdil na Coleção do Museu do Neo-Realismo







Museu do Neo-Realismo em Cascais "Assalto ao Palácio de Verão - 
Coleção do Museu do Neo-Realismo", Galeria de Exposições do Palácio da Cidadela, até ao dia 14 Setembro 2025.








A Fundação D. Luís I, em colaboração com a Câmara Municipal de Cascais, e o Museu do Neo-Realismo, em colaboração com a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, apresentam, na Galeria de Exposições do Palácio da Cidadela, Assalto ao Palácio de Verão, uma exposição de pintura, escultura, desenho e fotografia da coleção do referido museu. 
De 24 de abril a 14 de setembro exibem-se obras de #JúlioPomar, #Mário Dionísio, #MariaBarreira, #ManuelRibeirodePavia, #AliceJorge, #VictorPalla, #QuerubimLapa, #NunoSan-Payo, #CiprianoDourado, #LuísDourdil, #Hansi Steal e #DorindodeCarvalho, entre tantos outros artistas, no âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que decorrem em Cascais.








 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Memórias e factos. A arte e a vida.






Ano de 1966 em Monsaraz ♡  memórias
Esquerda Olinda Dourdil e Luís Dourdil
M.Céu  Encarnação Manuela e António Fernando dos Santos o grande tóssan  e à direita o   Dr Mariano Alves Encarnação. A Fotografia foi tirada pelo amigo comum Dr. Adriano de Gusmão.




"Estou farto de escavar nos olhos
abismos de ternura
onde cabem todos menos eu.
Estou farto de palavras de perdão
que me ferem a boca
dum frio de lágrimas quentes de punhal.
Estou farto desta dor inútil
de chorar por mim nos outros.
- Eu que nem sequer tenho a coragem de escrever
os versos que me fazem doer."

José Gomes Ferreira





Martins Correia á esquerda, Luis Dourdil ao centro e Lagoa Henriques direita.
José Saramago,  declamando. Ciclo de performances que juntaram na década de 80 Artes Plásticas, Poesia e Música na Galeria S. Bento em Lisboa.

"Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma."
José Saramago.





S.N.B.A. Ano 1976 Revista  n.0
 Memorias
Luís Dourdil, Eurico Goncalves ,Querubim LAPA  Artur Bual Emilia Nadal Isabel Laginhas, entre Muitos Outros Grandes Artistas e Críticos de Arte.






quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Memórias de Exposições - Arte Portuguesa Contemporânea. Brasília. São Paulo. Rio de Janeiro

 Exposição promovida no quadro do intercâmbio cultural luso-brasileiro, na qual participaram cerca de 76 artistas portugueses da primeira metade do século XX. Contribuindo para a abertura da arte nacional ao circuito artístico internacional, a mostra contou com um total de 117 peças de pintura e desenho, cedidas por vários emprestadores públicos e privados.


Exposição promovida no quadro do intercâmbio cultural luso-brasileiro, sob o alto patrocínio dos governos dos dois países, com primeira inauguração em Brasília (15 de dezembro de 1976), contando com as presenças do primeiro-ministro português, Mário Soares, em visita oficial àquele país, e do secretário de Estado da Cultura, David Mourão-Ferreira, à qual se seguiram as inaugurações em São Paulo (24 de fevereiro de 1977) e no Rio de Janeiro.

A organização da exposição, composta por duas comissões organizadoras (brasileira e portuguesa), foi planificada pelo comissário nacional e então diretor do Serviço de Exposições e Museografia da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), José Sommer Ribeiro, em parceria com os representantes da Secretaria de Estado da Cultura, Sociedade Nacional de Belas-Artes e Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA).


Na mostra participaram cerca de 76 artistas portugueses nascidos na primeira metade do século XX, num total de 117 obras, dedicadas sobretudo à pintura, mas também ao desenho, refletindo as principais tendências artísticas desenvolvidas pelas quatro gerações de artistas contempladas.

Só foi possível reunir um número tão significativo de obras com a intervenção de vários intermediários no processo e de vários emprestadores públicos e privados. Na documentação de arquivo encontram-se diversas informações referentes a uma possível itinerância da exposição com destino à URSS, cuja realização, até à data, não foi possível confirmar.

Em pleno período revolucionário, estas exposições representavam verdadeiramente a abertura da arte portuguesa contemporânea ao circuito artístico internacional e às novas perspetivas que se desenhavam para a arte e para os artistas portugueses. Esta exposição integra-se numa série de iniciativas governamentais de âmbito internacional, organizadas pela FCG em articulação com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e com a Secretaria de Estado da Cultura.

Filipa Coimbra, 2016


                                     Luis Dourdil ano 1974 Centro de Arte Moderna Gulbenkian


Data e Local

15 dez 1976 – 21 dez 1976

[Desconhecido]

Brasília, Brasil

19 jan 1977 – 17 fev 1977


Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio)

Rio de Janeiro, Brasil

24 fev 1977 – ?

Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM)

São Paulo, Brasil


"A arte oferece-nos a única possibilidade de realizar o mais legítimo desejo da vida - que é não ser apagada de todo pela morte. "

Eça Queirós


Artistas / Participantes

Fechar

Abel Manta (1888 – 1982)

Amadeo de Souza-Cardoso (1887 – 1918)

Ângelo de Sousa (1938 – 2011)

António Areal (1934 – 1978)

António Charrua (1925 – 2008)

António Costa Pinheiro (1932 – 2015)

António Dacosta (1914 – 1990)

António Palolo (1946 – 2000)

António Pedro (1909 – 1966)

António Sena (1941 – 2024)

Artur Cruzeiro Seixas (1920 – 2020)

Augusto Gomes (1910 – 1976)

Bernardo Marques (1898 – 1962)

Carlos Botelho (1899 – 1982)

Carlos Calvet (1928 – 2014)

Dordio Gomes (1890 – 1976)

Eduardo Batarda (1943)

Eduardo Luiz (1932 – 1988)

Eduardo Viana (1881 – 1967)

Fátima Vaz (1946 – 1992)

Fernando Calhau (1948 – 2002)

Fernando de Azevedo (1923 – 2002)

Fernando Lanhas (1923 – 2012)

Fernando Lemos (1926 – 2019)

Graça Pereira Coutinho (1949)

Grupo Puzzle (1976 – 1981)

Guilherme de Santa Rita (1889 – 1918)

Guilherme Parente (1940)

Helena Almeida (1934 – 2018)

Henrique Manuel (1945 – 1993)

João Navarro Hogan (1914 – 1988)

João Vieira (1934 – 2009)

Joaquim Lima Carvalho (1940)

Joaquim Rodrigo (1912 – 1997)

Jorge Martins (1940)

Jorge Pinheiro (1931)

José de Almada Negreiros (1893 – 1970)

José Escada (1934 – 1980)

José Júlio Andrade dos Santos (1916 – 1963)

José Manuel Espiga Pinto (1940 – 2014)

Julião Sarmento (1948 – 2021)

Julio (1902 – 1983)

Júlio Pomar (1926 – 2018)

Júlio Resende (1917 – 2011)

Lisa Santos Silva (1949)

Lourdes Castro (1930 – 2022)

Luís Dourdil (1914 – 1989)

Luís Noronha da Costa (1942 – 2020)

Manuel Baptista (1936 – 2023)

Manuel Cargaleiro (1927 – 2024)

Manuel D'Assumpção (1926 – 1969)

Manuel Ribeiro de Pavia (1907 – 1957)

Marcelino Vespeira (1925 – 2002)

Maria Helena Vieira da Silva (1908 – 1992)

Maria Velez (1935 – 2017)

Mário Eloy (1900 – 1951)

Menez (1926 – 1995)

Nadir Afonso (1920 – 2013)

Nikias Skapinakis (1931 – 2020)

Nuno de Siqueira (1929 – 2007)

Nuno San-Payo (1926 – 2014)

Paula Rego (1935 – 2022)

Pires Vieira (1950)

René Bertholo (1935 – 2005)

Ricardo da Cruz-Filipe (1934)

Rogério Ribeiro (1930 – 2008)

Rolando Sá Nogueira (1921 – 2002)

Vasco Costa (1917 – 1986)

Vítor Fortes (1943)



segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

A Arte de Luís Dourdil


"A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz."

José Saramago


                                                         Abraço- Pintura a óleo de Luís Dourdil

(...) Recordar, revisitar, repetir de todos os modos, qualquer forma de aceder ao pintor Luís Dourdil, é favorecer a manutenção da memória e da sua identidade plástica; é promover a continuação de estudos e as mais variadas fruições; é trazer para os grandes públicos e disponibilizar um dos artistas do século XX com obra de relevo; é sobretudo combater a finitude da condição humana, contrapondo pertinente a intemporalidade das suas composições plásticas.

E se essa intemporalidade pode de facto contrariar o esquecimento e o ostracismo, que muitas vezes apanha tão desprevenida, quanto indefesa, a obra criada, será pois na ritualização temporal que podemos contrariar esta e outras circunstâncias, num círculo contínuo de construção e reconstrução da identidade da arte e do património e do seu garante memória.

E, se admitirmos que o fundamento do tempo é essa memória, parece pois ser possível considerar que a exaltámos, cumprindo com a homenagem justa e a divulgação substantiva.


Maria Teresa Bispo 

Licenciada em História pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Mestre em Arte, Património e Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; 


 

DOURDIL MUSEU GULBENKIAN



 

Luís Dourdil

Ano: 1979

Museu Calouste Gulbenkian

Tipo: Pintura a óleo sobre tela

Dimensões: 

© All rights reserved

CAMJAP - Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão





Luís Dourdil Museus
Fundação Calouste Gulbenkian 
Ano: 1974
Tipo: Pintura a óleo sobre tela

© All rights reserved
CAMJAP - Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão- 


Luís Dourdil Museus
Ano: 1974
Museu Calouste Gulbenkian
Tipo: Pintura a óleo sobre tela
© All rights reserved

CAMJAP - Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão

12 obras do pintor  em acervo

© All rights reserved

http://cam.gulbenkian.pt/CAM/pt/Colecao/Autores





                                                 


Luis Dourdil nasceu em Coimbra. Autodidacta viajou por Espanha França e  Itália como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, onde estudou "Pintura dos Mestres Italianos e a sua integração na arquitectura"

Paralelamente ao seu trabalho como artista gráfico , foi realizando lentamente uma obra de grande unidade estilística, passando do realismo minucioso de "Homens do Fogo"(1942)                                            






a uma figuração abstractizante característica  da pesquisa dominante entre pintores modernos portugueses dos anos 50.

O seu quadro "Peixeira sentada"  é uma das suas obras mais conhecidas, assim como as pinturas murais do Café Império.
Durante os 40 e 50, portanto, Dourdil representa figuras populares em composições que devem muito às teorias de André Lhote e ao exemplo de Jacques Villon, com a sua pintura de planos transparentes.Mas a estes pintores deve acrescentar-se a emoção provocada pela obra do escultor Henry Moore, com o seu testemunho da grandeza humana e o seu sentido de monumentalidade.A figura humana é o pretexto de todas as composições de Luis Dourdil, de picturalidade serena e sensível, respeitadora da superfície e do suporte. Os espaços cheios e os vazios são tratados com igual cuidado ; a cor apresenta-se em planos paralelos ao plano da tela, escalonando-se em profundidade, num rigor de organização visual que a torna mais complexa e melhor adaptada às inflexões da sua sensibilidade, no jogo subtil de transparências que se equilibra com a procura de luminosidade.
Em 1963, uma pintura decorativa constitui uma declarada homenagem a Jaques Villon:" Operação Cirurgica

é talvez a pintura mais geometrizada e de cromatismo mais violento.Mas essa sentida homenagem constituiu também uma despedida, passando Dourdil a praticar um desenho menos predeterminado.



Óleo s/tela 119 X 118 - do ano de 1966 da Colecção de arte do Grupo Totta.
© Todos os direitos reservados
Óleo s/tela 115 X 145 do ano de 1966 da Colecção de arte do Grupo Totta;Actual Millenium BCP
© Todos os direitos reservados

Texto de Rui Mário Gonçalves in "Os Edifícios a Colecção Os Artistas Grupo Totta ano de 2002

Óleo s/tela 115 X 145 do ano de 1966 da Colecção de arte do Grupo Totta.
© Todos os direitos reservados

Linhas sensíveis revelam o diálogo entre a mão e o olhar do pintor, na construção de um espaço que é sempre entendido através da sugestão da figura humana, em desenhos que valem por si mesmos, ou em pinturas de harmónicos valores luminosos."
Gonçalves Rui Mário em 100 PINTORES PORTUGUESES DO SEC. XX Edições Alfa Lisboa 1986

LUIS DOURDIL PINTORES PORTUGUESES SEC XX


Para o situar a geração de Dourdil, vale a pena lembrar os nomes de alguns pintores portugueses que nasceram nessa década:
" Mário Dionisio, Álvaro Perdigão, Manuel Filipe, Manuel Ribeiro Pavia, Estrela Faria, Augusto Gomes, José de Lemos, Paulo Ferreira,Cândido da Costa Pinto, Magalhães Filho, Guilherme Camarinha, Manuel Lapa, António Dacosta, João Navarro Hogan, Luís Dourdil, Maria Keil, Júlio Resende. Joaquim Rodrigo e José Júlio, nascidos também na mesma década,vieram a revelar-se pintores, mais tarde do que os outros.
É um conjunto de artistas que fazem charneira entre a geração de Botelho, Eloy, Júlio, Alvarez, e a geração de Pomar, Lanhas, Vespeira e Fernando de Azevedo. Vieira da Silva era ainda muito pouco conhecida, por viver fora de  Portugal. O fluir da vida cultural deve ser conhecido se queremos entender alguma coisa da acção dos protagonistas".
Rui Mário Gonçalves

 Óleo s/Tela  ano de 1964 colecção particular. © All rights reserved

"Arte Moderna Portuguesa", Lund, Suécia 1976.
"Arte Portuguesa Contemporânea" em Brasília
São Paulo e Rio de Janeiro 1976.
Exposição de Pintura e Escultura Contemporâneas.
Madrid 1977
Bienal Ibero-Americana de Desenho, Cidade do México 1980.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Pintura Portuguesa Sec. XX Memórias de 2014 -2015


"A Pintura Antes de Tudo"       Luís Dourdil



[Catarina Vaz Pinto, Vereadora da Cultura da C. M. de Lisboa]



"A divulgação de um artista plástico com a dimensão criativa do pintor Luís Dourdil - como gostava de ser evocado - cumpre na cidade vários objectivos: uns de teor patrimonial, que se articulam no âmbito da conservação e restauro, como é o caso da pintura mural do Café Império; outros que viabilizam a divulgação da arte e do seu criador, em tantos eventos que têm vindo a promover a revisitação do homem e da sua obra, trazendo a público e à reflexão inúmeras temáticas, por exemplo em contexto de tertúlia; e ainda outros que se dinamizam na revitalização da memória estética, também
concretizada na relação espacial com o edificado, como é de referir os vários momentos de exibição do desenho, da pintura e da pintura mural. // 


A vida e obra do artista  foi tema de uma tertúlia e debate com os seguintes participantes: O Jornalista e Presidente da Academia Superior de Belas Artes António Valdemar, Dr. Nuno Lima de Carvalho director da Galeria de Arte do Casino Estoril, Professor Rocha de Sousa, pintor, escritor, critico de arte e membro da AICA, Maria Teresa Bispo historiadora de arte e técnica superior da Câmara Municipal de Lisboa, pintora Gracinda Candeias, artista plástica e ainda Dr. Luís Fernando Dourdil Jurista, filho do pintor.


Estas comemorações e todas as iniciativas colaboram neste fim, interpelando a urbe em muitos e diversos lugares, convocando tão plurais participações, quanto criteriosas abordagens, reunindo à volta do nascimento do pintor 

Luís Dourdil - um belíssimo pretexto - para o reconhecimento do mérito. 

Tanto na obra pública ou do domínio público, como na obra que se diversifica pelas colecções particulares e institucionais - de natureza pública e privada - quer ainda na que nos deixou como artista gráfico de uma grande empresa farmacêutica, Luís Dourdil contribuiu indubitavelmente para o espólio criativo no panorama nacional e para a imagética da cidade. 


Evocá-lo pela diversidade de propostas é somente uma forma de Lisboa o homenagear, expandindo para as gerações futuras o que herdámos no presente, por altura do seu nascimento e agora cem anos depois. //

 Catarina Vaz Pinto.

Fotos: Copyright © 2014 José Gema

A equipa que dirigiu os trabalhos de conservação e restauro do mural de Luís Dourdil, no Café Império.

Da esquerda para a direita: Filipa Teixeira, Dulcina Carvalho e Filipa Machado

LUIS DOURDIL - HOMENAGEM E MEMÓRIAS - CENTENÁRIO

Passam neste ano de 2024- 10 anos que se realizaram as comemorações do Centenário do pintor Luís Dourdil, com o restauro de uma das suas grandes obras murais, intitulada "Conversações".

Referimos o afresco realizado pelo pintor no ano de 1955 no icónico Café Império.









 Luís Dourdil discreto e organizado,  pintou (superiormente) como viveu, inteiro, com coerência, numa espécie de modéstia ao mesmo tempo perplexa e empolgada, sentido por dentro as suas referências culturais, autoaprendizagem, o correr da História.


Entrar no seu atelier do Coruchéus era descobrir-lhe a ordem, a serenidade do lento e longo diálogo com as aparências. os materiais e as matérias da pintura ,o equilíbrio de um profissionalismo conquistado em muitos anos de pesquisa gráfica.


É preciso reafirmar que Luis Dourdil é um dos principais autores da pintura moderna portuguesa e que a justiça de que porventura beneficia agora chegou tarde e mal dimensionada no confronto com personalidades, suas contemporâneas, de idêntico valor. Isso pode dever-se em parte, ao modo de ser do artista, à sua modéstia, mas deve-se também, e sobretudo, à incapacidade dos nossos analistas para escapar a este fenómeno provinciano(de mimetismo complexado) que os reduz aos padrões consumíveis da moda e os impede de assumir, com isenção científica, critérios históricos e estéticos, o estudo plural de modos de formar que se distingam, em exemplar qualidade, daquele tipo de referências.


Dourdil não foi um autor de circunstância Não teve nunca de se submeter o mundo das suas formas e da sua escrita aos postulados efémeros da exterioridade consumista. Não teve porque acreditava no valor intrínseco das suas descobertas e conferia maior 

importância ao trajecto lento mas sincero, e essa interioridade que
sempre sobrepôs." -

 Rocha de Sousa in Artes Plásticas,nº1 Jul.1990https://pt.wikipedia.org/wiki/Rocha_de_Sousa

sexta-feira, 19 de abril de 2024

"Homens do fogo" Pintura a óleo ano 1942 Colecção EDP, MAAT Museu de Arte  Arquitetura tecnologia.

 "Nunca fui um paisagista. Parti sempre da forma real, mas só me interessei de facto pela figura humana. Parece que apenas nela encontro a beleza e a tragédia ou as partes articuláveis de uma nova ordem, um dinamismo interno – a pintura antes de tudo.

Esclarecida deste modo pelo próprio Luís Dourdil a natureza do seu envolvimento com a prática artística e pictórica, podemos desde já constatar que quem assim fala não é nem poderia ser um neorrealista, mesmo se não deixou de partilhar com a sua época e os movimentos culturais que a definiram uma visão humanista da expressão artística. Posto isto, e depois da separação de águas contida neste preâmbulo, iniciemos a observação concreta de uma obra rara no percurso de Dourdil e da própria arte portuguesa que, de um modo quase perentório e imediato, nos incita à classificação de neorrealista. https://davidsantosarchive.com/luis-dourdil-e-os-caminhos-do-neorealismo/

O que nela se observa em termos temáticos (ações de trabalho, em especial a alimentação das caldeiras a carvão, na Central Tejo, então sob alçada da empresa “Companhias Reunidas de Gás e Eletricidade”), mas mais ainda o modo como são manifestados os sinais desse conteúdo, aproximam decisivamente a obra “Homens do Fogo” – uma pintura óleo sobre tela, de médio formato, 114×153 cm, assinada e datada de 1942 – do universo do “realismo social”(...)

David Santos


David Santos, historiador de arte e curador de arte contemporânea.


Luis Dourdil executou esta obra enquanto gráfico na antiga CRGR, Companhias Reunidas de Gás e Electricidade.


Estudo da obra "Homens do fogo"

Rocha de Sousa, professor, crítico de arte e artista plástico português.


"Esta obra de Dourdil propõe um discurso neo-realista, com algumas acentuações recolhidas indirectamente do expressionismo e da vontade social que os dois «movimentos», deste ou daquele modo, interpretam. O esforço e a grandeza do trabalho humano passam pela tela com um tom ideológico apologético: os gestos quotidianos dos trabalhadores cedem a uma encenação operática, aliás desenvolvida sobre uma «cortina cénica» de escala significativamente grandiosa. A fábrica não é o lugar onde se produz, é a catedral do esforço colectivo; e tudo o que se movimenta (re)toma a eterna pose da monumentalidade, do sacrifício sublimado em reflexo super humano..."

Rocha de Sousa