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José Augusto França Foi um historiador, sociólogo e crítico de arte português.
O Historiador fala da obra e do pintor luisdourdil
"Fernando de Azevedo apresentou, uma importante retrospetiva de Luís Dourdil nas Galveias, na Primavera do ano passado; devíamos tê-la visitado juntos, mas acabou por não ser assim.
Éramos ambos velhos amigos do pintor e teríamos falado dele aqui, a duas vozes, se, entretanto, e tendo concordado comigo na exposição de hoje, o Fernando não tivesse morrido também. O que ele escreveu do Dourdil e aqui repetiria seria bem parecido com o que eu vou escrever, ausente do país para poder dizê-lo de viva voz Infelizmente. Tristemente.
Os dois e pensando no terceiro, podíamos falar de uma pintura em que os três fomos formados — “Escola de Paris”, necessariamente, de depois da guerra, e vindo de trás, de cubismo em cubismo, como aprendemos, para experimentar e fazer, eles, por dentro, ou para ver, eu, por dentro também, que é maneira de ver pintura de outrém com a devida cumplicidade, de quem vê e dá a ver.
Deram-nos a ver todos os fautores de uma história de pintura ocidental que em Cézanne se refez, por via do espaço do renascimento. Poussin conforme a natureza, e os cubos, as esferas, as pirâmides — as pirâmides sobretudo, em que o ver se conhece e dá a conhecer. Até que o momento tenha chegado de aproveitar a dissolução impressionista da natureza para voltar a fazê-la, numa criação outra em que, agora, são os sólidos desejados que se desfazem, na dialéctica das suas ocultas forças...
Quem assim mais particularmente se situa é Jacques Villon. O Fernando di-lo, digo-o eu, e com certeza que ambos o dissemos ao Dourdil — que bem o sabia, ele que era da mesma e mui rara raça cultural. Uma sensibilidade austera, com uma leve ironia nas perguntas que cada forma fez à outra forma, capazes de serem corpos e gente lidando num quotidiano silencioso e discreto.
A pintura e o desenho de Luís Dourdil têm essas duas qualidades por essência, vindo donde vêem por educação de geração e passando através de situações diversas que foram de um expressionismo generalizado em várias posições da história da pintura — indo de Paris para Nova York e de lá voltando modificada para novas aventuras de muita imitação e modas, ao longo de duas gerações depois da do pintor que sossegadamente ficou igual a si mesmo. Igual mas vivendo num permanente e sincero interrogatório de pintura, para saber como era a sua vocação de pintor. “Escola de Paris”, na sua verdade, por outra nessa verdade não haver...
Mas, como em nenhum outro pintor da sua geração, que é ainda a “segunda” do modernismo nacional, numa “Escola de Paris” entendida necessariamente em Lisboa, pela naturalidade da sua afectação, e sem qualquer prática, que seria ilusória, de viagem ao estrangeiro parisiense. Viagem, sim, fê-la Dourdil no interior da sua permanente pintura, vendo as figuras dos painéis das defuntas C. R. G. E. de antanho, na sala de atendimento da Rua do Crucifixo (onde o pintor me levou a ver, para boa conversa, em anos 50) mudarem-se em outras, de definição diluída até à consciência da sua estrutura obviamente abstracta, ou nem uma coisa nem outra, por ambas ser, na enorme têmpera pintada numa parede do Café Império, defunto também no tempo em que cafés havia na cidade. E onde o pintor me levou, outra vez consigo, para ver e conversar...
Dourdil, modesto por temperamento, discreto por boa educação, nisso alheio a corridas e mercados que aliás a sua geração não teve a dita de conhecer, fez, no seu atelier dos Coruchéus (onde tantas vezes subi para ver, folhear e conversar, conversar) uma obra de dezenas e dezenas de desenhos, pegando sempre na mesma folha de 100 por 70, ou 86 por 61, e no mesmo carvão que ia gastando lentamente, em gestos precisos de mão e de olhar... Uma obra que importa situar em quase cinquenta anos de prática, numa história de pintura portuguesa atentamente olhada para além de pressas e êxitos de bilheteira."
José-Augusto França
(Jarzé, Outubro 2002)
“A «Segunda Geração»:
Pintores, Eloy, Júlio Alvarez, Botelho Bernardo Marques. Sara Afonso. Ofélia Marques. José Tagarro. Lino António. Augusto Gomes. Tomás de Melo –Tom. Estrela Faria, Magalhães Filho,Manuel Lapa e Frederico George Luís Dourdil
Luciano Santos. Maria Keil, Martins Correia ,Guilherme Camarinha e a tapeçaria. António Lino e o mosaico. Paulo Ferreira. Júlio Santos. Guilherme Filipe, Carlos Carneiro, Eduardo Malta e outros. João
Carlos. Roberto Nobre. Arlindo Vicente. José de Lemos. Hansi Staël e os estrangeiros.
José-Augusto França in A História da Arte em Portugal no Século XX 1911-1961
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