sexta-feira, 19 de abril de 2024

"Homens do fogo" Pintura a óleo ano 1942 Colecção EDP, MAAT Museu de Arte  Arquitetura tecnologia.

 "Nunca fui um paisagista. Parti sempre da forma real, mas só me interessei de facto pela figura humana. Parece que apenas nela encontro a beleza e a tragédia ou as partes articuláveis de uma nova ordem, um dinamismo interno – a pintura antes de tudo.

Esclarecida deste modo pelo próprio Luís Dourdil a natureza do seu envolvimento com a prática artística e pictórica, podemos desde já constatar que quem assim fala não é nem poderia ser um neorrealista, mesmo se não deixou de partilhar com a sua época e os movimentos culturais que a definiram uma visão humanista da expressão artística. Posto isto, e depois da separação de águas contida neste preâmbulo, iniciemos a observação concreta de uma obra rara no percurso de Dourdil e da própria arte portuguesa que, de um modo quase perentório e imediato, nos incita à classificação de neorrealista. https://davidsantosarchive.com/luis-dourdil-e-os-caminhos-do-neorealismo/

O que nela se observa em termos temáticos (ações de trabalho, em especial a alimentação das caldeiras a carvão, na Central Tejo, então sob alçada da empresa “Companhias Reunidas de Gás e Eletricidade”), mas mais ainda o modo como são manifestados os sinais desse conteúdo, aproximam decisivamente a obra “Homens do Fogo” – uma pintura óleo sobre tela, de médio formato, 114×153 cm, assinada e datada de 1942 – do universo do “realismo social”(...)

David Santos


David Santos, historiador de arte e curador de arte contemporânea.


Luis Dourdil executou esta obra enquanto gráfico na antiga CRGR, Companhias Reunidas de Gás e Electricidade.


Estudo da obra "Homens do fogo"

Rocha de Sousa, professor, crítico de arte e artista plástico português.


"Esta obra de Dourdil propõe um discurso neo-realista, com algumas acentuações recolhidas indirectamente do expressionismo e da vontade social que os dois «movimentos», deste ou daquele modo, interpretam. O esforço e a grandeza do trabalho humano passam pela tela com um tom ideológico apologético: os gestos quotidianos dos trabalhadores cedem a uma encenação operática, aliás desenvolvida sobre uma «cortina cénica» de escala significativamente grandiosa. A fábrica não é o lugar onde se produz, é a catedral do esforço colectivo; e tudo o que se movimenta (re)toma a eterna pose da monumentalidade, do sacrifício sublimado em reflexo super humano..."

Rocha de Sousa




Memórias do pintor.


Dourdil foi membro da Drecção da Sociedade Nacional de Belas Artes de 1957 a 1963 e em 1964 foi membro do Concelho Técnico desta Sociedade.

Ainda no ano de 1957 foi eleito pelos artistas portugueses concorrentes à Bienal São Paulo, membro do juri seleccionador das obras a enviar a esta Bienal, por intermédio do SNI e membro do Júri da Fundação Calouste Gulbenkian para aquisição de trabalhos na " 1ª " Exposição de Artes Plásticas, organizada por esta Fundação.



Nu artístico na obra de Dourdil ; década 50




"A beleza de um corpo nu só a sentem as raças vestidas. O pudor vale sobretudo para a sensibilidade como o obstáculo para a energia."

Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego





                                       

"Desenhar é a integridade da arte. Não há possibilidade de trapacear: Ou é bom ou é ruim.

Salvador Dali




"Nunca fui um paisagista.

Parti sempre da forma real, mas só me interessei de facto pela figura humana. Parece que apenas nela encontro a beleza e a tragédia, ou partes articuláveis de uma nova ordem, um dinamismo interno-a pintura, antes de tudo"

Luís Dourdil



"Não mudamos com a idade na estrutura do que somos. Apenas, como na música, somo-lo noutro tom."

Vergilio Ferreira 



 

Pintura Portuguesa Luis Dourdil Memórias

          Ao Miguel  - Poema de Eugénio de Andrade

Escuta, escuta: tenho ainda

uma coisa a dizer.

Não é importante, eu sei, não vai

salvar o mundo, não mudará

a vida de ninguém — mas quem

é hoje capaz de salvar o mundo

ou apenas mudar o sentido

da vida de alguém?

Escuta-me, não te demoro.

É coisa pouca, como a chuvinha

que vem vindo devagar.

São três, quatro palavras, pouco

mais. Palavras que te quero confiar,

para que não se extinga o seu lume,

o seu lume breve.

Palavras que muito amei,

que talvez ame ainda.

Elas são a casa, o sal da língua.

 






      Eugénio de Andrade retratado por Luis Dourdil em 1941


Luis Dourdil



"Registos de uma vida"    S.N.B.A. 06 de Junho de 1960

-Celestino Alves, Carlos Botelho, B. Tavares, Conceição Silva, Anjos Teixeira, Peres Fernandes, José Júlio, Machado da Luz, Luís Dourdil

Sentados -Abel Manta, Abílio Mereles, Pedro Guedes e Frederico George.