terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Pintura Portuguesa Sec. XX

"Dourdil foi um mestre do equilíbrio de diversas aprendizagens do seu tempo, tanto na ordem de uma figuração transgredida como no âmbito de uma insinuação abstracta ao mesmo tempo pressuposta e exposta. E o enlace de tais processos de construir e de formar permitiu-lhe, sem a demagogia de certas denúncias superficiais, alcançar níveis de significação onde acabava por prevalecer um especial sentido do drama. O drama social, sem dúvida, mas sobretudo no plano de grandes sínteses, entre brumas, desencantos e fugazes anotações líricas sobre lugares anónimos, sobre protagonistas mascarados de sombra, sobre abraços e mortes lassas de um quotidiano cada vez mais absurdo.

Contemporâneo da literatura do absurdo, mas não empenhado em a seguir ou ilustrar, Dourdil é dos autores portugueses que melhor entenderam esse não sentido do enganador sentido das aparências, quer do ponto de vista gestáltico, quer do ponto de vista existencial e filosófico. É por isso que a sua pintura nos mostra gente em espera, pedaços de corpos, sonos, sem amanhecer, solidariedades desesperadas, um grito silencioso que podemos conotar, passando por cima do lado imediato da forma com o teatro de Beckett ou a inquietante ausência de resposta, das melhores alegorias de Kafka.(...)

Prof. ROCHA DE SOUSA

In Artes Plásticas nº 1 de 1990






                      Luís Dourdil 1974 Colecção CAM Fundação Calouste Gulbenkian.© All rights reserved


"Linhas sensíveis revelam o diálogo entre a mão e o olhar do pintor, na construção de um espaço que é sempre entendido através da sugestão da figura humana, em desenhos que valem por si mesmos, ou em pinturas de harmónicos valores luminosos."

Gonçalves Rui Mário em 100 PINTORES PORTUGUESES DO SEC. XX Edições Alfa Lisboa 1986







                                                     ´Luis Dourdil óleo s/tela colecção particular © All rights reserved

Pintura Portuguesa sec. XX


Era uma sensibilidade extraordinária, o Luís Dourdil; e como essa sensibilidade se aliava a grandes conhecimentos de arte e ao domínio inteiro da técnica, em particular do desenho, o Dourdil tinha todas as condições para ter sido um nome de primeiro plano na Arte Portuguesa do nosso tempo. O seu desenho tem uma leveza e, ao mesmo tempo, uma força que marcam a personalidade do artista”.

Raul Rego




Pintura Portuguesa

Luís Dourdil com a sua escala de neutros, trai o natural pendor
da sua sensibilidade, fina, recolhida, murmurando discretas harmonias apenas decifráveis a um repetido e alerta olhar. Há, azuis energéticos, ocres intensos. rosas desmaiados, t erras aveludadas e surdas. Verdes líquidos e brônzeo...o vermelho fácil, estridente e oratório não entra nesta selecionada gama. Mas há brancos de inesperada riqueza cromática e descobrem-se aparentes transparências. 
Pintura e desenho irmanam-se e equiparam-se. O artista não obedece a preceitos. Soberba conquista de quem sabe estar sinceramente implantado na Vida e na Arte e, dominando o métier. Esse comportamento é, um acto ético, como ética tem sido a sua conduta de artista, sem impaciências nem «pressas»..."

Adriano Gusmão in Ensaios de Arte e Crítica


 


Luis Dourdil óleo s/tela colecção particular © All rights reserved

sábado, 18 de setembro de 2021




"Luis Dourdil, discreto e organizado, pintou (superiormente) como viveu, inteiro, com coerência, numa espécie de modéstia ao mesmo tempo perplexa e empolgada, sentido por dentro as suas referências culturais, auto-aprendizagem,o correr da História. Entrar no seu atelier do Coruchéus era descobrir-lhe a ordem, a serenidade do lento e longo diálogo com as aparências. os materiais e as matérias da pintura, o equilíbrio de um profissionalismo conquistado em muitos anos de pesquisa gráfica. É preciso reafirmar que Luis Dourdil é um dos principais autores da pintura moderna portuguesa e que a justiça de que porventura beneficia agora chegou tarde e mal dimensionada no confronto com personalidades, suas contemporâneas, de idêntico valor. Isso pode dever-se em parte, ao modo de ser do artista, à sua modéstia, mas deve-se também, e sobretudo, à incapacidade dos nossos analistas para escapar a este fenómeno provinciano(de mimetismo complexado) que os reduz aos padrões consumíveis da moda e os impede de assumir, com isenção científica, critérios históricos e estéticos, o estudo plural de modos de formar que se distinguam,em exemplar qualidade, daquele tipo de referências.
Dourdil não foi um autor de circunstância. Não teve nunca de se submeter o mundo das suas formas e da sua ecrita aos postulados efémeros da exterioridade consumista. Não teve porque acreditava no valor intrínseco das suas descobertas e conferia maior importância ao trajecto lento mas sincero, e essa interioridade que sempre sobrepôs."
 - Rocha de Sousa in Artes Plásticas,nº1 Jul.1990







                                             Pintura portuguesa
                                                                                   Luís Dourdil 1914-1989


"A pintura supera toda a obra humana pelas possibilidades subtis que encerra"
Leonardo Da Vinci








                                                 Carvão sobre papel composição abstracta ano c. 1940 

                                                 Luis Dourdil © All rights reserved

Pintura Portuguesa Sec.XX


"Viver é um favor que não se sabe quando acaba - nem como pagar - mas que se sabe, logo à partida, que vai acabar antes de nos apetecer. Todos os dias sinto que foi mais um dia que me foi dado e, ao mesmo tempo, mais um dia que me foi subtraído, que jamais hei-de recuperar."
Miguel Esteves Cardoso





Carvão sobre papel composição abstracta de Luis Dourdil 1940

                                                                © All rights reserved
 

domingo, 17 de janeiro de 2021

Pintura Portuguesa Sec. XX



"Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na busca de um bem definitivo
Em que as coisas de Amor se eternizassem"

Sophia de Mello Breyner Andresen




                                           
                                             "Olinda Dourdil"-  Óleo S/Tela © All rights reserved





"OURO INCENSO E ARTE" Luis Dourdil


"Preciso de parar constantemente de pintar para poder proporcionar e receber as sugestões que o quadro me vai dando à medida que nele avanço".

Luis Dourdil


 

                                                        "OURO INCENSO E ARTE"

Foi com este título que o CNAP apresentou uma grandiosa Exposição de consagrados Artistas Contemporâneos.

 Entre os consagrados e já falecidos nomes como Albino Moura ,Cruzeiro Seixas, Martins Correia, Noronha da Costa e Luis Dourdil.




                                             Mulheres de Alfama à janela ano 1960 © All rights reserved

                                                  






sábado, 16 de janeiro de 2021

Câmara Municipal de Lisboa comemora 50 anos dos 50 ateliês dos Coruchéus







A Câmara Municipal de Lisboa assinala, 50 anos depois, a chegada dos primeiros artistas dos Coruchéus num lançamento online com três exposições, o lançamento de um site e a publicação de uma monografia numa programação que se estende até agosto de 2021.

As exposições terão lugar na biblioteca, no jardim dos coruchéus e nos edifícios dos ateliês com os nomes “Os Edifícios” , “O Lugar” e “Os Artistas”, sendo que o lançamento do site é dedicado ao conjunto dos Coruchéus e artistas e a monografia intitula-se “50 Anos 50 Ateliês Coruchéus”.


Junto ao palácio, o projeto dos edifícios surge, nos anos 60, da procura de espaços de trabalho pelos artistas plásticos da cidade, um complexo construído de raiz e desenhado por Fernando Peres Guimarães (1918-2016), um dos mais antigos membros da ordem dos arquitetos.

Para além dos eventos, entrevistas realizadas a 13 artistas serão disponibilizadas na Internet e, ao longo da programação será possível assistir a visitas mediadas, atividades educativas e conversas.

Alberto Carneiro, Ana Hatherly, António Palolo, Ernesto de Sousa, Fernando Calhau e Helena Almeida Luis Dourdil, são algumas das referências que passaram pelo espaço.





                                                Texto de Filipa Bossuet

                     Fotografias da cortesia da Câmara Municipal de Lisboa


Se queres ler mais notícias sobre a cultura em Portugal, clica https://gerador.eu/camara-municipal-de-lisboa-comemora-50-anos-dos-50-atelies-dos-cor
 


Memórias de Luis Dourdil




Luis Dourdil
"Um artista na continuidade e na renovação"
Mais de quarenta anos de experiência, aberta a uma sempre livre inspiração pessoal e, ao mesmo tempo, a um apuramento técnico amadurecido, lúcido, intransigente com a sua mesma facilidade, fizeram de Luis Dourdil um dos pintores e desenhadores mais seguros de si mesmo nas artes plásticas de Portugal moderno.A sua obra foi sempre e é agora mais do que nunca a de uma personalidade forte, exprimindo-se sem influências que possam ser dependências. E é uma obra excepcional em que a força e firmeza, sem necessidade de feitos nem de rebuscamentos dão uma <verdade> de visão de artista que só deve a si próprio".
Mário de Oliveira

Maria Barroso lê poema de Sophia de Mello Breyner Andresen 


"Eis que morrestes - agora já não bate
O vosso coração cujo bater
Dava ritmo e esperança ao meu viver
Agora estais perdidos para mim
- O olhar não atravessa esta distância -
Nem irei procurar-vos pois não sou
Orpheu tendo escolhido para mim
Estar presente aqui onde estou viva.
Eu vos desejo a paz nesse caminho
Fora do mundo que respiro e vejo.
Porém aqui eu escolhi viver
Nada me resta senão olhar de frente
Neste país de dor e incerteza.
Aqui eu escolhi permanecer
Onde a visão é dura e mais difícil
Aqui me resta apenas fazer frente
Ao rosto sujo de ódio e de injustiça
A lucidez me serve para ver
A cidade a cair muro por muro
E as faces a morrerem uma a uma
E a morte que me corta ela ensina
Que o sinal do homem não é uma coluna.

E eu vos peço por este amor cortado
Que vos lembreis de mim lá onde o amor
Já não pode morrer nem ser quebrado.
Que o vosso coração que já não bate
O tempo denso de sangue e de saudade
Mas vive a perfeição da claridade
Se compadeça de mim e de meu pranto
Se compadeça de mim e de meu canto."

Sophia de Mello Breyner Andresen in Livro Sexto (1985)






        Dra. Maria Barroso, a pintora Manuela Pinheiro e Luis Dourdil numa exposição de pintura.

Pintura Portuguesa Séc. XX


O tempo e o espírito  



"O tempo, embora faça desabrochar e definhar animais e plantas com assombrosa pontualidade, não tem sobre a alma do homem efeitos tão simples. A alma do homem, aliás, age de forma igualmente estranha sobre o corpo do tempo. Uma hora, alojada no bizarro elemento do espírito humano, pode valer cinquenta ou cem vezes mais que a sua duração medida pelo relógio; em contrapartida, uma hora pode ser fielmente representada no mostrador do espírito por um segundo."
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Virginia Woolf (1882-1941) in Orlando




Desenho carvão s/papel © All rights reserved colec/particular


"Nunca fui um paisagista.
Parti sempre da forma real, mas só me interessei de facto pela figura humana.
Parece que apenas nela encontro a beleza e a tragédia, ou partes articuláveis de uma nova ordem, um dinamismo interno-a pintura, antes de tudo"

Luis Dourdil