sábado, 16 de janeiro de 2021

Memórias de Luis Dourdil




Luis Dourdil
"Um artista na continuidade e na renovação"
Mais de quarenta anos de experiência, aberta a uma sempre livre inspiração pessoal e, ao mesmo tempo, a um apuramento técnico amadurecido, lúcido, intransigente com a sua mesma facilidade, fizeram de Luis Dourdil um dos pintores e desenhadores mais seguros de si mesmo nas artes plásticas de Portugal moderno.A sua obra foi sempre e é agora mais do que nunca a de uma personalidade forte, exprimindo-se sem influências que possam ser dependências. E é uma obra excepcional em que a força e firmeza, sem necessidade de feitos nem de rebuscamentos dão uma <verdade> de visão de artista que só deve a si próprio".
Mário de Oliveira

Maria Barroso lê poema de Sophia de Mello Breyner Andresen 


"Eis que morrestes - agora já não bate
O vosso coração cujo bater
Dava ritmo e esperança ao meu viver
Agora estais perdidos para mim
- O olhar não atravessa esta distância -
Nem irei procurar-vos pois não sou
Orpheu tendo escolhido para mim
Estar presente aqui onde estou viva.
Eu vos desejo a paz nesse caminho
Fora do mundo que respiro e vejo.
Porém aqui eu escolhi viver
Nada me resta senão olhar de frente
Neste país de dor e incerteza.
Aqui eu escolhi permanecer
Onde a visão é dura e mais difícil
Aqui me resta apenas fazer frente
Ao rosto sujo de ódio e de injustiça
A lucidez me serve para ver
A cidade a cair muro por muro
E as faces a morrerem uma a uma
E a morte que me corta ela ensina
Que o sinal do homem não é uma coluna.

E eu vos peço por este amor cortado
Que vos lembreis de mim lá onde o amor
Já não pode morrer nem ser quebrado.
Que o vosso coração que já não bate
O tempo denso de sangue e de saudade
Mas vive a perfeição da claridade
Se compadeça de mim e de meu pranto
Se compadeça de mim e de meu canto."

Sophia de Mello Breyner Andresen in Livro Sexto (1985)






        Dra. Maria Barroso, a pintora Manuela Pinheiro e Luis Dourdil numa exposição de pintura.

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