"Dourdil foi um mestre do equilíbrio de diversas aprendizagens do seu tempo, tanto na ordem de uma figuração transgredida como no âmbito de uma insinuação abstracta ao mesmo tempo pressuposta e exposta. E o enlace de tais processos de construir e de formar permitiu-lhe, sem a demagogia de certas denúncias superficiais, alcançar níveis de significação onde acabava por prevalecer um especial sentido do drama. O drama social, sem dúvida, mas sobretudo no plano de grandes sínteses, entre brumas, desencantos e fugazes anotações líricas sobre lugares anónimos, sobre protagonistas mascarados de sombra, sobre abraços e mortes lassas de um quotidiano cada vez mais absurdo.
Contemporâneo da literatura do absurdo, mas não empenhado em a seguir ou ilustrar, Dourdil é dos autores portugueses que melhor entenderam esse não sentido do enganador sentido das aparências, quer do ponto de vista gestáltico, quer do ponto de vista existencial e filosófico. É por isso que a sua pintura nos mostra gente em espera, pedaços de corpos, sonos, sem amanhecer, solidariedades desesperadas, um grito silencioso que podemos conotar, passando por cima do lado imediato da forma com o teatro de Beckett ou a inquietante ausência de resposta, das melhores alegorias de Kafka.(...)
Prof. ROCHA DE SOUSA
In Artes Plásticas nº 1 de 1990
Luís Dourdil 1974 Colecção CAM Fundação Calouste Gulbenkian.© All rights reserved
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