terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Pintura Portuguesa Sec. XX

"Dourdil foi um mestre do equilíbrio de diversas aprendizagens do seu tempo, tanto na ordem de uma figuração transgredida como no âmbito de uma insinuação abstracta ao mesmo tempo pressuposta e exposta. E o enlace de tais processos de construir e de formar permitiu-lhe, sem a demagogia de certas denúncias superficiais, alcançar níveis de significação onde acabava por prevalecer um especial sentido do drama. O drama social, sem dúvida, mas sobretudo no plano de grandes sínteses, entre brumas, desencantos e fugazes anotações líricas sobre lugares anónimos, sobre protagonistas mascarados de sombra, sobre abraços e mortes lassas de um quotidiano cada vez mais absurdo.

Contemporâneo da literatura do absurdo, mas não empenhado em a seguir ou ilustrar, Dourdil é dos autores portugueses que melhor entenderam esse não sentido do enganador sentido das aparências, quer do ponto de vista gestáltico, quer do ponto de vista existencial e filosófico. É por isso que a sua pintura nos mostra gente em espera, pedaços de corpos, sonos, sem amanhecer, solidariedades desesperadas, um grito silencioso que podemos conotar, passando por cima do lado imediato da forma com o teatro de Beckett ou a inquietante ausência de resposta, das melhores alegorias de Kafka.(...)

Prof. ROCHA DE SOUSA

In Artes Plásticas nº 1 de 1990






                      Luís Dourdil 1974 Colecção CAM Fundação Calouste Gulbenkian.© All rights reserved

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