Ao Miguel - Poema de Eugénio de Andrade
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém — mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
Eugénio de Andrade retratado por Luis Dourdil em 1941
"Registos de uma vida" S.N.B.A. 06 de Junho de 1960
-Celestino Alves, Carlos Botelho, B. Tavares, Conceição Silva, Anjos Teixeira, Peres Fernandes, José Júlio, Machado da Luz, Luís Dourdil
Sentados -Abel Manta, Abílio Mereles, Pedro Guedes e Frederico George.
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