A projecção dos vultos, a luz o movimento/velocidade através dos vidros da janela.. deu origem a uma "fase" que muito inspirou o pintor.
«...Muitas vezes, à medida do quotidiano que nos cabe, presos nas carruagens urbanas, olhando a multidão através dos vidros, o que vemos são eventualmente fantasmas assim, o desembarque de homens sem cabeça no cais de um outro dia, os instantes incompletos feitos de coisas indecifráveis, as mutilações ilegíveis após combates para liberdades que não sabemos.
Cinzentos ou não, os quadros deste mestre que se ensinou a si mesmo, olhando as criaturas e os próprios dedos arrumando a óleo as roupas talvez sujas de uma miséria talvez anterior, são gritos mutilados ainda por estudar.
Depois da passagem atroadora dos comboios suburbanos.
O que importa, já no tempo em que o pintor alegrava as telas com belos corpos desengonçados e revestidos de outros trajes, ensaio indisciplinado e belo de uma nova primavera, é que o fim ainda emerge de coisas contrárias mas conotáveis, a relva da última mancha, os velhos fantasmas, abstractos, afinal incómodos na sua abertura – e sem cabeça.
Na sua fase terminal, riscando com pincéis rasteiros,
Dourdil, sem renunciar ao seu método e ao seu modo de formar, voltava a encontrar as cabeças dos seus jovens dormindo, porque eles usavam todos capacetes de mota. Tudo cicatrizara em azuis e tons de flor.
Excerto de um texto de Rocha de Sousa (por ocasião das celebrações do centenário do Pintor Luís Dourdil)
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