Alice Ogando 1900-1981, Marias da Minha Terra 1934
Capa de Luís Dourdil 1914-1989
https://pt.wikipedia.org/wiki/Alice_Ogando
Marias da Minha Terra
Essas Marias tafues E aquela que vindima
Que passeiam no Chiado Desde manhã ao sol pôr
Com seus vestidos azues A quem o trabalho anima
E pesito bem calçado, Por amor do seu amor
As unhas côr de tomate, Essa que lava cantando
Sobrancelhas a carvão, Cantigas ao desafio,
A linda bôca escarlate Suas máguas segredando
E vazio o coração, Ás verdes águas do rio.
Não são como tu, Maria, Aquela de loira trança
– Marias da minha terra – Como uma espiga doirada,
da Senhora da Agonia Que sonha amor e esperança
E mais do Senhor da Serra, Em noite de desfolhada.
Do Penedo da Saudade, E tu, Maria da Graça,
Das eiras, da desfolhada, E tu, Maria do Ceu,
São Marias da Cidade, Que ninguem na aldeia calça
– Não são Marias nem nada. Sapatinho igual ao teu,
Tu sim, que passas airosa Marias todas verdade,
Minha linda moleirinha Marias só – coisa pouca –
Mais branca que a branca rosa Apenas simplicidade,
Tão branca como a farinha. Coração ao pé da boca.
E tu, que passas ligeira, Marias que passam vidas
De tamanquinha no pé, Inteirinhas a rezar
A Maria mais trigueira Pelas alminhas perdidas
Da praia da Nazareth. Por sôbre as águas do mar.
Essa de saia rodada Quiz cantar o vosso encanto,
Como uma rosa em botão, Toda a alegria que encerra
A quem já vejo brilhar Este nome, que é um canto
Nos olhos, o coração. Em louvor da nossa terra!
Alice Ogando 1900-1981
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