quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Pintura Portuguesa Sec. XX

(...) Durante os anos cinquenta ,os artistas modernos portugueses concentravam a sua meditação no confronto de duas concepções pictóricas: a figurativa e a abstracta
Havia os radicais ,a favor de uma ou outra concepção, e havia os que procuravam sínteses.
A novidade estava na arte abstracta.
Mas os mais velhos e os mais informados não podiam esquecer que os pintores naturalistas eram bastante mais dotados e que o Naturalismo permanecia no gosto dominante da sociedade portuguesa.
A vontade de aproveitar o máximo de ambas as concepções, figurativa e abstracta acompanhava a vontade de aproveitar o máximo de todas as artes.

Luís Dourdil foi realizando, lentamente, com segurança uma obra de grande unidade estilística, passando de um realismo minucioso de "Homens de Fogo"(1942) a uma figuração abstractizante.

Rui Mário Gonçalves






                                       Pintura a óleo "Bairro da Lata"© All rights reserved


Pintura Portuguesa Sec. XX





                                                     Pintura a óleo de Luis Dourdil © All rights reserved

                                                     



 Nas suas telas Dourdil, vai encontrando a sua verdade; a velha verdade que não lhe pertence em exclusivo, que é de todos e não admite nada «pessoal» no que se diz ou que se pinta: o mundo existe, a morte existe, o homem é e não é, o mar é o mar e estamos todos cheios de agua de terra e de lama.

De tanto a sua visão projecta-se mais para além da realidade aparente e conduz a um mundo liberto no qual podemos consentir em tudo e no qual nada é incompreensível.

Margarida Botelho __ 75 ARTISTAS EM PORTUGAL - 1989

                                                       Pintura a óleo de Luis Dourdil (fragmento)© All rights reserved

                                                 

"Guardarás numa caixinha

o que não fiz por ti,

a mão que não chegou à sobrancelha

que nem aflorou,

o beijo repetido nas palavras

sem que o tacto

o multiplicasse qual se desejava.


Nessa caixa de nada não tardará depois

a não estares só tu,

a não estar só eu,

a estarmos só os dois."

Pedro Tamen

Pintura Portuguesa Sec.XX


(...)
«Cheguei quase aos sessenta anos e só agora estou convencido de que a minha pintura atingiu a maturidade. Isto é relativo, como todas as coisas neste domínio, mas o que
sinto dá ao meu trabalho uma espécie de consistência duradoura, permite-me absorver cada vez mais o essencial das formas indicativas dos meus temas»

Luís Dourdil in Colóquio junho/75




 

                                              Pintura de Luis Dourdil © All rights reserved



"Estou farto de escavar nos olhos

abismos de ternura

onde cabem todos menos eu.

Estou farto de palavras de perdão

que me ferem a boca

dum frio de lágrimas quentes de punhal.

Estou farto desta dor inútil

de chorar por mim nos outros.

- Eu que nem sequer tenho a coragem de escrever

os versos que me fazem doer."


José Gomes Ferreira




Pintura portuguesa Luís Dourdil

       Luís Dourdil © All rights reserved 


"Quase ninguém repara em ninguém. Em parte porque o espaço que nos circunda está cheio de chamadas, de perigos e de júbilos; o ser humano, longe do que se pensa, é o que menos se nota no mundo."

Agustina Bessa-Luís

Pintura e Desenho de Luis Dourdil



"Linhas sensíveis revelam o diálogo entre a mão e o olhar do pintor, na construção de um espaço que é sempre entendido através da sugestão da figura humana, em desenhos que valem por si mesmos, ou em pinturas de harmónicos valores luminosos"

 Rui Mário Gonçalves in 100 Pintores Portugueses do Século XX Publ.Alfa



"Apesar da sua personalidade discreta, Luís Dourdil não deixou de exercer um continuado protagonismo na estagnada cena artística nacional da primeira metade do século, sendo mesmo um dos principais nomes que, vindos dos anos 30,conseguiram projectar com sentido de sobrevivência a sua obra nas décadas seguintes...
Dourdil elege os temas que servirão para dar continuidade a um trabalho feito com a convicção de quem descobrira a força da autenticidade e a prevalência de valores como a coerência. Na constância do seu trabalho são observáveis transformações que não representam mais que o normal fluir de uma linguagem. Grupos humanos surpreendidos nos transportes públicos, no limiar de uma viagem que nunca acaba, porque todos os dias recomeça. Jovens ociosos, envolvendo-se em abraços que parecem fundir os corpos...
Dourdil conquistara a serenidade dos espíritos livres. Era finalmente um Mestre."
- António Bacalhau in Catálogo da Galeria 111-Luis Dourdil Pintura E Desenho/ Setembro de 1991.




" Conheci o pintor Luis Dourdil há mais de quarenta anos quando, já relacionado com assuntos de arte embora longe de vir a ser exclusivamente profissional nesta área, lhe fiz uma encomenda de carácter gráfico. A partir daí nasceu uma amizade, consolidada ao longo dos anos. A presente exposição tem para mim uma intenção e um significado que ultrapassa a minha normal actividade de galerista. Dourdil foi um dos melhores pintores portugueses da sua geração.um grande artista e homem, de quem me orgulho de ter sido amigo."
- Manuel de Brito in Catálogo da Galeria 111-Luis Dourdil Pintura E Desenho/Setembro de 1991.





Luís Dourdil - Foto de Eduardo Gageiro