domingo, 5 de janeiro de 2020

Óleo e carvão sobre papel  " Série Alfama" s/data
© All rights reserved


(...) Figuração, abstracção, desenho e pintura foram os binómio férteis em que se construiu a obra de Luís Dourdil. 
Para tema quase exclusivo da sua obra escolheu a figura humana, com as suas formas e gestos, os seus dramas e os seus conflitos corpos postados num mundo real- o do trabalho, das horas de ócio, e desprazer, quase sempre daquelas que vivem nas margem da sociedade (...) 


Dr. Lima de Carvalho in Exposição Homenagem a Luis Dourdil Galeria do Casino Estoril 1990






     Óleo e carvão sobre papel  " Série Alfama" s/data © All rights reserved






sábado, 4 de janeiro de 2020

Pintura Portuguesa Sec XX



"(... )Quando Luís Dourdil representava uma figura humana, interessava-lhe mais o enquadramento, o jogo de verticais e horizontais, os cinzentos e os suaves azuis e rosas, do que o
pormenor anatómico, a particularidade do rosto do modelo.
A vontade de aproveitar o máximo de ambas as concepções, figurativa e abstracta, acompanhava a
vontade de aproveitar o máximo de todas as
artes.
Rui Mário Gonçalves






                             " Série Alfama" Óleo sobre papel © All rights reserved s/data.


Memórias de Luís Dourdil


(...) "Luís Dourdil nasceu em 1914
 é porventura o mais velho autor de pinturas que curiosamente incidem numa temática actual: a juventude marginal que,de "jeans","ténis" e capacetes de motorizadas,se deita descuidadamente nos jardins públicos,onde, ao sol,esboça delicados gestos de ternura,e amor: e retrata também a massa humana e anónima que diariamente se comprime no metropolitano e nos autocarros.Não há rostos na sua figuratização abstractizante,mas apenas corpos vestidos ou volumes diluídos num espaço de luz ténue,que através de uma subtil gama de cinzentos na articulação de formas e planos."(...)


Eurico Gonçalves in Catálogo " A Gaveta do Artista",1986


                                         Óleo s/tela  - "Fase do jovens"© All rights reserved

Memórias de Luis Dourdil

"Numa tarde soalheira, vou atelier do Luís Dourdil e...fui mesmo a tempo de o meu amigo não destruir o quadro que faltava pouco para acabar!
Oh Dourdil não faça isso!
- Acha? Não se aproveita nada!
Olhe a mim até me apetecia pintá-lo, está mesmo «apetitoso»!

Deixei o seu atelier com ele cheio de dúvidas...eis senão quando, vem com o quadro e diz:
- Gracinda acabe o quadro!
Posso? Claro!
E foi-se embora...
Fiquei com a responsabilidade de não apagar as suas primeiras manchas e fiz quase uma urdidura...
Chamei-o para mostrar o resultado, GOSTOU TANTO, que lhe ofereci!
Quando fui a sua casa, lá estava o quadro em grande destaque na sala, e eu fiquei toda vaidosa... e dizíamos "O NOSSO QUADRO PINTADO A QUATRO MÃOS"!
Assim era a nossa amizade e cumplicidade!


Gracinda Candeias











"Nunca fui um paisagista.
Parti sempre da forma real,mas só me interessei de facto pela figura humana.
Parece que apenas nela encontro a beleza e a tragédia,ou partes articuláveis de uma nova ordem,um dinamismo interno-a pintura,antes de tudo"

Luís Dourdil


                                    Crayon s/papel - Luís Dourdil © All rights reserved c.1950

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

"DOIS OVOS AO FIM DA TARDE











Quando o homem saiu de casa,pensou apenas em que lhe 
saberia bem ir a pé até ao fundo da Alameda.Não eram muitas as vezes em que podia voltar as costas ao autocarro e dar-se a esse apetecido exercício.Sem o aguilhão do relógio.Sem moer-se com atrasos.Tinha um emprego que o enjaulava das tantas da manhã (que cedo acordavam as manhãs!) às tantas da tarde (que ronceiras eram as tardes!),com as nádegas pregadas a um banco alto, o cavalete na frente,a mão contrafeita.a sujar papéis de olhos fechados, a cidade espalmada nos vidros da janela como um rosto triste (mas a tristura era dele,que a via tão perto e tão distante), e quando, enfim, se abriam as portas da prisão pouco mais tempo lhe restava do que,num rufo,tomava a bica no café mais próximo.Depois vinha o jornal lido no autocarro,o jantar e o serão que não chegava a nada para o muito que lhe daria gosto fazer.A mulher nem se atrevia a propor um passeio.Sabia respeitar aquela necessidade de iludir o sonho e tricotava enquanto ele,numa nuvem de cigarros,refundia, noite após noite,o que começara na véspera. Havia os domingos, é certo,mas os domingos eram a ressaca da semana:a indolência merecida ou desenganada,o pequeno almoço na cama,a música do rádio,a matinée no cinema do bairro e,sobretudo,o fastio das ruas em que a vida se adiava.A verdade é que,quando chegava o Verão,sentia as juntas perras,a moleza pegada ao corpo e,debalde,fugia ao langoroso convite dos cadeirões das esplanadas.Valia-lhe ser um peso pluma.Mas agora que,por um acaso da sorte e valendo-se de um duvidoso atestado de doença,interrompera o emprego para aceitar aquele trabalho,não desperdiçaria o ensejo de um pouco de marcha diária,já que da sua casa à Alameda nem dois quilómetros distavam.Marchar, numa rotina de sedentarismo (tanto os da alma como os dos músculos) também sabia a libertação.O homem, pois,saiu de casa a foi ao atravessar a rua que se lembrou dos ovos.Sem os ovos, nada feito. Estudara as coisas com rigorosa minúcia. Desavesado a certos lugares,e como nunca acompanhara a mulher nas compras,voltou atrás e gritou para cima, pelos roufenhos do intercumunicador:
- Maria,onde poderei encontrar ovos?
A mulher,com risos na voz,elucidou-o:
-Fica-te em caminho.Na Charcutaria"Pôr do Sol".
A Charcutaria "Pôr do SOL".Essa, conhecia ele.Ali a dois passos.Tomava lá café,nada mau,e só um herege podia ficar indiferente à exuberância da apetitosa montra,desde chourições aos papos de anjo de Amarante.Ovos,numa luxaria daquelas?A ideia intimidava-o.Entrou, porém armando-se com o alibi de precisar de cigarros,para o caso de se sentir em apuros.Viu-se,por momentos, aturdido com o labirinto de escaparates,mas logo um senhor mavioso,que o observara de longe,destes para quem"o cliente tem sempre razão",veio desembaraça-lo de hesitações.
-Tem a bondade.Vossa Excelência que deseja?
Adiou a resposta com um distraído ou ainda perturbado:
-Boa tarde.
-Boa tarde a Vossa Excelência. Deseja então...
-Ovos.
-Concerteza.Tem por onde escolher.
-Queria dos melhores.
O logista, que parecia passado a ferro de cima a baixo,assentiu numa reverência e,guiando o cliente até uma pilha de tabuleiros,apontou com a mão esmerada:
-Aqui os tem Vosssa Excelência.
O homem pegou num,dos ovos,rodou-o vagarosamente entre os dedos, avaliou-lhe o peso e, quando ia a apreciá-lo contra a luz,o lojista interrompeu-o,já numa ênfase um tudo- nada agastada:
-São de primeira qualidade.Com carimbo.Vêm directamente de Albarraque,do produtor.Ovos saloios-e diluiu o olhar impaciente pelo que se passava em redor.
O pormenor do carimbo é que pareceu impressionar o cliente.Pois, lá estava o carimbo.Para quem não estivesse afeito aos códigos de mercancia,poderia parecer outra coisa,mas eram mesmo letras,números-um carimbo.Ficava a saber que por aí,se conheciam os ovos de confiança.
-Bem,já vejo que são bons.E suponho que frescos.
-Sem dúvida.
O lojista aguardou uma ordem,ou seja.que o freguês mandasse embalar a quantidade desejada,e,de raspão,atentou em que ele nada trazia consigo,nem um saquinho disfarçado,que servisse para transportar os ovos.Mais que ia dizer-lhe para mandar a encomenda a casa.
-Quantas dúzias?
-Quero dois.
-Disse duas?
-Dois.Dois ovos.
-Vossa Excelência manda.
A imperturbabilidade do logista era um modelo de controle profissional das emoções.De calo no ofício.E também de natural fidalguia,perfeitamente compatível com uma actividade que alguns tinham por servil.Um senhor,enfim.Chamou a empregada para embrulhar os dois ovos e agradeceu como se tivesse tratado de uma compra choruda.
O homem esteve a trabalhar toda a tarde...
No dia seguinte, a cena da compra simplificou-se.
O senhor de falas corteses vio-o do balcão,antecipou-se a um marçano,talvez para que não houvesse perda de tempo e inquiriu:
-Hoje,Vossa Excelência deseja...
-Os ovos.Dois.Com carimbo.
Enquanto os escolhia no tabuleiro,o lojista repetiu:
-Dois.Com carimbo. Ei-los.Mais nada?
-Mais nada.
O outro franziu a testa ainda lisa.Só a testa.Mas, ao convidar o freguês a acompanhá-lo na cariciosa mirada pelos artigos expostos,via-se que lhe era dificil aceitar o vexame de uma compra que não justificava que alguém pusesse os pés na mais ordinária das lojas.
-Temos um esplêndido queijo de Azeitão.Talvez Vossa Excelência...Mas se prefere da Serra...
_Não quero queijo.
-Ou fiambre.Não encontra que se compare.
-Apenas os ovos.
-Vossa Excelência manda.
À despedida,foi com um tempero de discreta ironia que o senhor afável perguntou;
-Vossa Excelência ficou satisfeito com os ovos de ontem?
-Eram perfeitos.
-Ainda bem.Nunca tivémos uma reclamação.
E o mesmo diálogo com a ocasional variante de meias palavras de embuçada intenção,nos dias que se seguiram.Mas,à quarta vez,depois de o lojista o seduzir em vão,com atuns,salpicões,alheiras de Mirandela,intrigado com a história dos ovos... bastar-se com os ovos em três jantares sucessivos?(e o almoço,com mil diabos?) e nem ao menos se consolar com um naco de presunto ou uma talhada de queijo!...Por isso, o estranho cliente era uma carga de ossos.
-Boa tarde.
-Boas tardes a Vossa Excelência.
-Dois ovos como os de ontem.
-Ou como os de anteontem...
Sorriam ambos.A revalar para uma intimidade constrangida.
E estavam naquilo.à mesma hora.E,por ser à mesma hora,o logista já o esperava à porta.
Os dois ovinhos do costume,não é verdade?
-Dois.
-A que horas fecha a charcutaria?
-Às dez, caro senhor.
-Então passarei a vir a roda das nove.
O lojista passou a mão branda pelos cabelos grissalhos,que a brilhantina escurecia e domesticava.Encorajava-se a um reparo.
Vossa Excelência desculpará a inpertinência:mas porque não leva de cada vez uma duzia de ovos,uma dúzia ou outra quantidade qualquer,evitando o incómodo de...
-Prefiro assim.
Vossa Excelência manda.
Os gestos do lojista,porém,a custo dissimulavam o nervosismo,para não dizer a irritação.Aguardava o cliente à hora prevista...
-Vossa Excelência tem frigorifico?
-Tenho,mas porque me pergunta?
-È que se permite uma sugestão,poderia abastecer-se com uma quantidade razoável de ovos,visto que, no frigorifico,consevam-se muitos dias.
-Bem sei.Mas quero-os bem frescos.Dois de cada vez.
-Vossa Excelência é casado?Perdoe o atrevimento.
-Atrevimento?De modo nenhum!Sou casado,sou.Há uns bons anos.
-E janta, portanto, em casa.
-Quase sempre.
-Ah.
E não ousou ir mais longe.Em cada dia ,que entre ambos se insinuava uma convivência de ambiguidades,o lojista avançava em passo miúdo na tentativa de decifrar o mistério...
-Pelo que deduzo, Vossa Excelência gosta  muito de ovos.
-Nem por isso.
Era demais.Aquilo excedia o que a curisidade e a compostura de um homem poderiam suportar.Sentia-se humilhado.Sentia-se humilhado desde o primeiro dia,para que negá-lo?Embrulhou os ovos à má cara,despediu o freguês 
sem a saudação habitual.Porém num repente,foi sobre ele antes que passasse a porta,disse:
-Então os ovos são para alguém da família...
-Não são para mim.
O lojista mais não pôde que abrir a boca...
-Na vez seguinte,o lojista escolheu com enfatuado desvelo os dois ovos...
-Sabe Vossa Excelência que tenho prazer em vender ovos?É que, para mim são um pitéu.Omelete com salsa...
-Pois eu nem com salsa nem sem ela.
-Ah.
No dia seguinte o lojista aguardava-o junto ao balcão acompanhado de uma senhora um rapazola de uns catorze anos...,o grupo que paracia posar para um retrato,fitava-o com uma avidez imbuída de censura e reserva.Quanto ao lojista entre o acusador e o triunfante:"Eu não vos dizia?É este."Aproximou-se de voz melada e irónica:
-Os dois ovinhos do costume,claro está.
-Aqui tem Vossa Excelência.Bom proveito.
No dia seguinte...
-Perdoe Vossa Excelência:gostaria de confessar uma curiosidade.
-Estou a ouvi-lo
-Bom o caso é este:os ovos,os dois ovos diários. não são para o senhor comer,não são para ninguém comer,pois foi o senhor a dizê-lo;então para que servem?
-Muito simples: para pintar.
O lojista recuou,varado pela zombaria...,apontou o dedo trémulo...
-Diz Vossa Excelência que são para pintar.Tem graça.Carradas de graça.Para pintar de amarelo, bem entendido.
-De azul.Ou de violeta,vermelho,negro.-E após ter sublinhado uma pausa,falando espaçadamente e com uma deslavada
inocência:-Mas às vezes também de amarelo,de facto.
Olhando à roda,não fosse alguém reparar no diálogo,o lojista retorquiu,sem já moderar o sarcasmo:
De azul , de preto, de violeta.Pintando!
-Com ovos
-O senhor, o senhor!-Estava prestes a pôr de banda todo o resguardo nas suas reações.Estava preste a esquecer,pela primeira vez na vida,que um cliente é um cliente.Mesmo sendo tonto ou lunático.Ou provocador.-Mas pintar aonde?
-Numa parede.No fundo da Alameda.Naquelas obras ao lado do Cinema.
-Ao lado do...No fundo da Alameda.
Há um tapume.è nessas obras.
-Mas isso é um café.
Vai ser Grande.O maior de Lisboa.
-A pintar.
-Com ovos,sim.O senhor pode ir lá ver.
-E vou .Quando?
-Quando quizer.Agora mesmo.
O logista ainda incrédulo disse e poderei ir depois de fechar a charcutaria?
-Claro que pode agora já sabe o sitio.
-Então lá estarei.
O homem divertido,foi saboreando a conversa ao longo da rua.Chegou à Alameda sem dar por isso.Começou a preparar a emulsão no almofariz.Aquilo servido numa travessa passaria por maionese.De um lado .a gema de ovo misturada com o óleo de linhaça;do outro o friso de latas com os pigmentos.Como estes eram uma poeira seca,aderiam ao pincel molhado na emulsão.Nada de colas.Estudara a técnica com todo o vagar.Lera alfarrábios,fizera experiências.A gema de ovo fora até ao século XVI um dos veículos das tintas.Os antigos não eram tolos.Para eles a arte começava na oficina. Interessara-lhes a gema de ovo, cuja albumina ligava perfeitamente a água ao óleo.Pintura co séculos de confirmação,resistindo às maiores usuras.Tinha de resultar.Mas quanto fizera sofrer o pobre lojista!Exagerara.Sem premeditação,é certo empurrado pelas circunstâncias,pelos espantos,pelos tais laconismos.No entanto, talvez o enigma tivesse agitado a monotenia daquele viver.Batiam à porta, devia ser ele.Disse para o ajudante:
-Vai abrir  que certamentede é o senhor dos ovos.
-Procuro uma pessoa que pinta aí nas obras...,sentiu-se engolido por um tunel de surpresas:andaimes,o esgazeamento
de luzes crua.Não viu logo o seu cliente,porque este sumia-se no poleiro de cavaletes. Mas de lá lhe chegou uma vóz familiar:
-Trepe a essa mesa é mais fácil.
Levantou a cabeça para o alto,na direcção das lâmpadas que tinham o feitio de olhos de rã.Uma vasta parede de cal e areia, por onde progredia,uma labareda de cores,a incendiar os esboços de carvão,representando pessoas com o ar extasiado de quem aguarda um cometa no céu.Ei-los,os vermelhos,os azuis,,os amarelos.Aceitou a mão que o ajudava.O cliente vestia um fato de macaco e,na face encovada,ondeava a magia das sombras.
-Repare-dizia-lhe o pintor,numa inflexão paciente e bem humorada-,repare nesse almofariz.E nas cascas dos ovos.É assim que se fáz a mistura.Um pouco de pó vermelho e aí temos o pincel a fazer das suas.
O visitante permanece silencioso.Esforça-se por recuperar a sua personalidade de lojista

...
-Razão tinhao Vossa Excelência.Dois ovos por dia,claro.Não precisava de mais.Desculpe ter duvidado.Confesso que ainda me sinto confuso.Vender ovos para alguém pintar!-Apoiou-se no estrado,fitando o cliente com serena admiração  : -Tenho a honra de estar falando com...
-Luis Dourdil,pintor.
-Agradecido a Vossa Excelência.O pior é que a minha mulher não vai acreditar.

       - Resposta a Matilde- de Fernando Namora  "DOIS OVOS AO FIM DA TARDE" conto verídico sobre Luis Dourdil 

Retrato de um povo de LUIS DOURDIL




Herdeiro das correntes cubo expressionistas, Luis Dourdil adaptou-as à sua obra aproveitando as lições de Villon no que respeita à arquitectura do espaço, na atenção às verticais, nos planos frontais onde se insere a figura humana mas conferindo-lhe uma sensibilidade que resulta num jogo subtil de transparências definidor de espaços, servindo, simultaneamente, uma pessoal procura de luminosidade.



                                                 " Varinas" Óleo s/platex ano de 1952










Mural realizado 1955 têmpera a gema de ovo, restaurado no ano de 2014 por ocasião do Centenário do pintor.


"Dourdil foi um mestre do equilíbrio de diversas aprendizagens
do seu tempo, tanto na ordem de uma figuração transgredida como no âmbito de uma insinuação abstracta ao mesmo tempo pressuposta e exposta. E o enlace de tais processos de construir e de formar permitiu-lhe, sem a demagogia de certas denúncias superficiais,alcançar níveis de significação onde acabava por prevalecer um especial sentido do drama.O drama social, sem dúvida, mas sobretudo no plano de grandes sínteses,entre brumas, desencantos e fugazes anotações líricas sobre lugares anónimos,sobre protagonistas mascarados de sombra, sobre abraços e mortes lassas de um quotidiano cada vez mais absurdo.
Contemporâneo da literatura do absurdo, mas não empenhado em a seguir ou ilustrar, Dourdil é dos autores portugueses que melhor entenderam esse não sentido do enganador sentido das aparências, quer do ponto de vista gestáltico,quer do ponto de vista existencial e filosófico. É por isso que a sua pintura nos mostra gente em espera,pedaços de corpos,sonos,sem amanhecer,solidariedades desesperadas,um grito silencioso que podemos conotar,passando por cima do lado imediato da forma com o teatro de Beckett ou a inquietante ausência de resposta, das melhores alegorias de Kafka.(...)
Prof. ROCHA DE SOUSA
In Artes Plásticas nº 1 de 1990





Memórias de Luis Dourdil


"A figura humana é o pretexto de todas as composições de Luis Dourdil, de picturalidade serena e sensível, respeitadora da superfície do suporte.
Os espaços cheios e os vazios são tratados com igual cuidado; a cor apresenta-se em planos paralelos ao plano da tela,escalonando-se em profundidade,num rigor visual que a torna mais complexa e melhor adaptada ás inflexões da sua sensibilidade, no jogo subtil de transparências que se equilibra com a procura de luminosidade."


Rui Mário Gonçalves in 100 Pintores Portugueses do Século XX



                               Tempera S/ Tela 127 X 92.5 P.II 1974 -Luís Dourdil -Colecção
                                CAM Fundação Calouste Gulbenkian. © All rights reserved





Autor de uma pintura de fundo lírico da Segunda Geração de pintores portugueses do séc. XX foi galardoado com o Prémio de Desenho da Casa da Imprensa (1965) e com o 1º Prémio de Pintura do Ministério da Cultura na exposição de homenagem dos artistas portugueses a Almada Negreiros (1984), estando a sua obra representada em Lisboa no Museu da Cidade, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, na Sociedade Nacional de Belas Artes, no Museu do Chiado/ Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Museu da Electricidade, no Museu Abel Manta (Gouveia), Museu de Amarante, Museu Machado de Castro (Coimbra), Museu Tavares Proença Júnior (Castelo Branco)  no Museu de Serralves (Porto)...




Memórias de Luís Dourdil -RTP


                       

                Video- https://arquivos.rtp.pt/conteudos/luis-dourdil/

Apresentado por Fernando Balsinha, dedicado à vida e obra artística do pintor Luís Dourdil, com a entrevista no seu atelier nos Coruchéus.







Programa de artes plásticas apresentado por Fernando Balsinha, dedicado à vida e obra artística do pintor Luís Dourdil, com a entrevista no seu atelier, e ainda o destaque para as exposições individuais e colectivas de arte moderna e contemporânea ocorridas em Lisboa entre 1973 e 1974, incluindo exposições dos artistas plásticos Victor Vasarely, Ana Vieira, Manuel Cargaleiro, José Cândido, Júlio Pomar e Bengt Lindstrom.




Fotografias de Luís Dourdil; Luís Dourdil folheia livro e trabalha no seu atelier; Rocha de Sousa entrevista Luís Dourdil sobre o início do seu percurso artístico, o carácter autodidata do seu trabalho, a predominância do óleo na sua obra embora use outras técnicas e materiais, a necessidade de conservar as obras de arte, a filiação do seu trabalho na pintura figurativa, a relação entre o artista e a sociedade envolvente e a dificuldade de conciliar a qualidade artística com as especulações do mercado. 50m17: Fotografias de Luís Dourdil; pintor folheia desenhos; retrato de mulher; desenhos e esboços; Luís Dourdil prepara cor em paleta e pinta quadro; pinturas; Luís Dourdil pinta, lê e observa quadro. 57m19: Fernando Balsinha destaca a atenção do programa às exposições patentes em Lisboa. "Exposições": imagens de arquivo da exposição do artista plástico húngaro Victor Vasarely na Galeria Quadrum, em Março/Abril de 1974, da exposição da artista plástica portuguesa Ana Vieira, na Galeria Judite da Cruz, em Fevereiro/Março de 1974 e da exposição do pintor e ceramista Manuel Cargaleiro, na Galeria de São Mamede, em Novembro/Dezembro de 1973. 01h02m54: "José Cândido": imagens de arquivo de José Cândido, pintor e artista gráfico, a trabalhar no seu atelier e de pinturas; exposição de pintura de Júlio Pomar patente na Galeria 111, em Dezembro de 1973; "Gravura": imagens de arquivo do processo de realização de gravuras num atelier didático e da exposição do pintor sueco Bengt Lindstrom, na Galeria 111, em março de 1974. 01h08m48: "Formas de realismo e uma exposição como exemplo": imagens de arquivo da exposição do pintor José Vaz Vieira e do "Salão de Março" patentes na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Dezembro de 1973 e Março de 1974 respectivamente e destaque para os desenhos e ilustrações de Henrique Manuel.

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/luis-dourdil/