segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

A Arte de Luís Dourdil


"A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz."

José Saramago


                                                         Abraço- Pintura a óleo de Luís Dourdil

(...) Recordar, revisitar, repetir de todos os modos, qualquer forma de aceder ao pintor Luís Dourdil, é favorecer a manutenção da memória e da sua identidade plástica; é promover a continuação de estudos e as mais variadas fruições; é trazer para os grandes públicos e disponibilizar um dos artistas do século XX com obra de relevo; é sobretudo combater a finitude da condição humana, contrapondo pertinente a intemporalidade das suas composições plásticas.

E se essa intemporalidade pode de facto contrariar o esquecimento e o ostracismo, que muitas vezes apanha tão desprevenida, quanto indefesa, a obra criada, será pois na ritualização temporal que podemos contrariar esta e outras circunstâncias, num círculo contínuo de construção e reconstrução da identidade da arte e do património e do seu garante memória.

E, se admitirmos que o fundamento do tempo é essa memória, parece pois ser possível considerar que a exaltámos, cumprindo com a homenagem justa e a divulgação substantiva.


Maria Teresa Bispo 

Licenciada em História pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Mestre em Arte, Património e Restauro pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; 


 

DOURDIL MUSEU GULBENKIAN



 

Luís Dourdil

Ano: 1979

Museu Calouste Gulbenkian

Tipo: Pintura a óleo sobre tela

Dimensões: 

© All rights reserved

CAMJAP - Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão





Luís Dourdil Museus
Fundação Calouste Gulbenkian 
Ano: 1974
Tipo: Pintura a óleo sobre tela

© All rights reserved
CAMJAP - Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão- 


Luís Dourdil Museus
Ano: 1974
Museu Calouste Gulbenkian
Tipo: Pintura a óleo sobre tela
© All rights reserved

CAMJAP - Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão

12 obras do pintor  em acervo

© All rights reserved

http://cam.gulbenkian.pt/CAM/pt/Colecao/Autores





                                                 


Luis Dourdil nasceu em Coimbra. Autodidacta viajou por Espanha França e  Itália como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, onde estudou "Pintura dos Mestres Italianos e a sua integração na arquitectura"

Paralelamente ao seu trabalho como artista gráfico , foi realizando lentamente uma obra de grande unidade estilística, passando do realismo minucioso de "Homens do Fogo"(1942)                                            






a uma figuração abstractizante característica  da pesquisa dominante entre pintores modernos portugueses dos anos 50.

O seu quadro "Peixeira sentada"  é uma das suas obras mais conhecidas, assim como as pinturas murais do Café Império.
Durante os 40 e 50, portanto, Dourdil representa figuras populares em composições que devem muito às teorias de André Lhote e ao exemplo de Jacques Villon, com a sua pintura de planos transparentes.Mas a estes pintores deve acrescentar-se a emoção provocada pela obra do escultor Henry Moore, com o seu testemunho da grandeza humana e o seu sentido de monumentalidade.A figura humana é o pretexto de todas as composições de Luis Dourdil, de picturalidade serena e sensível, respeitadora da superfície e do suporte. Os espaços cheios e os vazios são tratados com igual cuidado ; a cor apresenta-se em planos paralelos ao plano da tela, escalonando-se em profundidade, num rigor de organização visual que a torna mais complexa e melhor adaptada às inflexões da sua sensibilidade, no jogo subtil de transparências que se equilibra com a procura de luminosidade.
Em 1963, uma pintura decorativa constitui uma declarada homenagem a Jaques Villon:" Operação Cirurgica

é talvez a pintura mais geometrizada e de cromatismo mais violento.Mas essa sentida homenagem constituiu também uma despedida, passando Dourdil a praticar um desenho menos predeterminado.



Óleo s/tela 119 X 118 - do ano de 1966 da Colecção de arte do Grupo Totta.
© Todos os direitos reservados
Óleo s/tela 115 X 145 do ano de 1966 da Colecção de arte do Grupo Totta;Actual Millenium BCP
© Todos os direitos reservados

Texto de Rui Mário Gonçalves in "Os Edifícios a Colecção Os Artistas Grupo Totta ano de 2002

Óleo s/tela 115 X 145 do ano de 1966 da Colecção de arte do Grupo Totta.
© Todos os direitos reservados

Linhas sensíveis revelam o diálogo entre a mão e o olhar do pintor, na construção de um espaço que é sempre entendido através da sugestão da figura humana, em desenhos que valem por si mesmos, ou em pinturas de harmónicos valores luminosos."
Gonçalves Rui Mário em 100 PINTORES PORTUGUESES DO SEC. XX Edições Alfa Lisboa 1986

LUIS DOURDIL PINTORES PORTUGUESES SEC XX


Para o situar a geração de Dourdil, vale a pena lembrar os nomes de alguns pintores portugueses que nasceram nessa década:
" Mário Dionisio, Álvaro Perdigão, Manuel Filipe, Manuel Ribeiro Pavia, Estrela Faria, Augusto Gomes, José de Lemos, Paulo Ferreira,Cândido da Costa Pinto, Magalhães Filho, Guilherme Camarinha, Manuel Lapa, António Dacosta, João Navarro Hogan, Luís Dourdil, Maria Keil, Júlio Resende. Joaquim Rodrigo e José Júlio, nascidos também na mesma década,vieram a revelar-se pintores, mais tarde do que os outros.
É um conjunto de artistas que fazem charneira entre a geração de Botelho, Eloy, Júlio, Alvarez, e a geração de Pomar, Lanhas, Vespeira e Fernando de Azevedo. Vieira da Silva era ainda muito pouco conhecida, por viver fora de  Portugal. O fluir da vida cultural deve ser conhecido se queremos entender alguma coisa da acção dos protagonistas".
Rui Mário Gonçalves

 Óleo s/Tela  ano de 1964 colecção particular. © All rights reserved

"Arte Moderna Portuguesa", Lund, Suécia 1976.
"Arte Portuguesa Contemporânea" em Brasília
São Paulo e Rio de Janeiro 1976.
Exposição de Pintura e Escultura Contemporâneas.
Madrid 1977
Bienal Ibero-Americana de Desenho, Cidade do México 1980.