"Luis Dourdil, discreto e organizado, pintou (superiormente) como viveu, inteiro, com coerência, numa espécie de modéstia ao mesmo tempo perplexa e empolgada, sentido por dentro as suas referências culturais, auto-aprendizagem,o correr da História. Entrar no seu atelier do Coruchéus era descobrir-lhe a ordem, a serenidade do lento e longo diálogo com as aparências. os materiais e as matérias da pintura, o equilíbrio de um profissionalismo conquistado em muitos anos de pesquisa gráfica. É preciso reafirmar que Luis Dourdil é um dos principais autores da pintura moderna portuguesa e que a justiça de que porventura beneficia agora chegou tarde e mal dimensionada no confronto com personalidades, suas contemporâneas, de idêntico valor. Isso pode dever-se em parte, ao modo de ser do artista, à sua modéstia, mas deve-se também, e sobretudo, à incapacidade dos nossos analistas para escapar a este fenómeno provinciano(de mimetismo complexado) que os reduz aos padrões consumíveis da moda e os impede de assumir, com isenção científica, critérios históricos e estéticos, o estudo plural de modos de formar que se distinguam,em exemplar qualidade, daquele tipo de referências.
Dourdil não foi um autor de circunstância. Não teve nunca de se submeter o mundo das suas formas e da sua ecrita aos postulados efémeros da exterioridade consumista. Não teve porque acreditava no valor intrínseco das suas descobertas e conferia maior importância ao trajecto lento mas sincero, e essa interioridade que sempre sobrepôs."
- Rocha de Sousa in Artes Plásticas,nº1 Jul.1990
Pintura portuguesa
Luís Dourdil 1914-1989