"A realidade social, um filtro na obra de Luís Dourdil"
Os primeiros trabalhos artísticos de Luís Dourdl datam de meados dos anos trinta, e desde logo se lhe observa uma particular atenção à temática social, consonante com as questões estético-artísticas que fazem dessa década uma das mais fervilhantes em termos de debates e polémicas, constituindo solo fértil das mudanças paradigmáticas que ocorreriam nos anos sequentes. Sem dúvida, Luís Dourdil é um pintor moderno, mas mais, é um artista do seu tempo, consciente das transformações estéticas, das vanguardas artísticas desses anos de convulsões sociais e políticas, a nível internacional e nacional. Desde as obras que leva à exposição Momento, em 1935, ensejo significativo por uma outra arte moderna e em contraponto com a Exposição de Arte Moderna, do SPN, apresentando
Miseráveis e Mulheres do Alentejo, como quem “tra[z] nos olhos a estrela da manhã da sua juventude”, ao desenho político-satírico publicado no semanário cultural oposicionista O Diabo, à temática social do trabalho, com Homens do fogo (c. 1942), obra ímpar no seu tempo e para o panorama artístico português, numa exaltação da força humana numa grande produção fabril, ao desenho Meditação ilustrando o frontispício de um censurado Grito de guerra, o artista
interpreta e revela artisticamente uma compreensão e uma concepção humanista do mundo e da sociedade..."
Luísa Duarte Santos IHA-FCSH/UNL