quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

"A figura humana é o pretexto de todas as composições de Luis Dourdil, de picturalidade serena e sensível, respeitadora da superfície do suporte.
Os espaços cheios e os vazios são tratados com igual cuidado; a cor apresenta-se em planos paralelos ao plano da tela,escalonando-se em profundidade,num rigor visual que a torna mais complexa e melhor adaptada ás inflexões da sua sensibilidade, no jogo subtil de transparências que se equilibra com a procura de luminosidade."


Rui Mário Gonçalves in 100 Pintores Portugueses do Século XX




Óleo s/Tela ano 1980  de Luís Dourdil colecção particular © All rights reserved


"A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz."

José Saramago
        

Pintura Portuguesa


(...) Durante os anos cinquenta,os artistas modernos portugueses concentravam a sua meditação no confronto de duas concepções pictóricas: a figurativa e a abstracta
Havia os radicais,a favor de uma ou outra concepção, e havia os que procuravam sínteses.
A novidade estava na arte abstracta.
Mas os mais velhos e os mais informados não podiam esquecer que os pintores naturalistas eram bastante mais dotados e que o Naturalismo permanecia no gosto dominante da sociedade portuguesa.
A vontade de aproveitar o máximo de ambas as concepções, figurativa e abstracta acompanhava a vontade de aproveitar o máximo de todas as artes.

Luís Dourdil foi realizando, lentamente, com segurança uma obra de grande unidade estilística,passando de um realismo minucioso de "Homens de Fogo"(1942) a uma figuração abstractizante.

Rui Mário Gonçalves






                  Pintura a óleo de Luís Dourdil - Ano 1980  © All rights reserved C/particular








Pintura Portuguesa




Para o situar a geração de Dourdil, vale a pena lembrar os nomes de alguns pintores portugueses que nasceram nessa década:

" Mário Dionisio, Álvaro Perdigão, Manuel Filipe, Manuel Ribeiro Pavia, Estrela Faria, Augusto Gomes, José de Lemos, Paulo Ferreira,Cândido da Costa Pinto, Magalhães Filho, Guilherme Camarinha, Manuel Lapa, António Dacosta, João NavarroHogan, Luís Dourdil, Maria Keil, Júlio Resende, Joaquim Rodrigo e José Júlio, nascidos também na mesma década,vieram a revelar-se pintores, mais tarde do que os outros.

É um conjunto de artistas que fazem charneira entre a geração de Botelho, Eloy, Júlio, Alvarez, e a geração de Pomar, Lanhas, Vespeira e Fernando de Azevedo. Vieira da Silva era ainda muito pouco conhecida, por viver fora de Portugal. 
O fluir da vida cultural deve ser conhecido se queremos entender alguma coisa da acção dos protagonistas".

Rui Mário Gonçalves




Varinas de Luís Dourdil"- © All rights reserved

Maria Lisboa



É varina, usa chinela,
tem movimentos de gata;
na canastra, a caravela,
no coração, a fragata.

Em vez de corvos no xaile,
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
baila no baile com o mar.

É de conchas o vestido,
tem algas na cabeleira,
e nas velas o latido
do motor duma traineira.

Vende sonho e maresia,
tempestades apregoa.
Seu nome próprio: Maria;
seu apelido: Lisboa.




David Mourão Ferreira